Os Estados Unidos da América (EUA) e a União Europeia pediram hoje à Rússia que aceite rapidamente a abertura dos portos ucranianos para a exportação dos milhões de toneladas de cereais armazenados, permitindo aliviar a crise alimentar global.
Moscovo “deve agir imediatamente para abrir esses portos e acabar com esta guerra”, disse o secretário de Agricultura norte-americano, Tom Vilsack, em conferência de imprensa na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque. “É uma coisa séria, não devemos usar a comida como arma”, insistiu.
A Organização das Nações Unidas (ONU) negocia há várias semanas com Moscovo, Kiev e Ancara garantias militares para a utilização do Mar Negro por navios civis, um acordo que permitiria que os cereais ucranianos saíssem do país em segurança e os fertilizantes produzidos pela Rússia regressassem ao mercado internacional.
Moscovo reclama de obstáculos às suas exportações devido a sanções económicas.
Se um acordo fosse alcançado, isso reduziria os preços dos alimentos e aliviaria a crise alimentar mundial, que está a agravar-se devido à invasão russa da Ucrânia.
Tom Vilsack reiterou que as sanções dos EUA não visam alimentos e fertilizantes, posição que foi repetida pelo chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, durante uma reunião do Conselho de Segurança da ONU.
“As sanções da União Europeia não são a causa da escassez de alimentos” porque “elas visam a capacidade do Kremlin de financiar a agressão militar – não a condução do comércio legítimo”, disse Borrell.
“As sanções da União Europeia não proíbem a importação e o transporte de produtos agrícolas russos, nem fertilizantes, nem o pagamento dessas exportações russas” e as “nossas medidas não afetam a capacidade de países terceiros comprarem à Rússia”, acrescentou Borrell.
Sobre as discussões em curso, o secretário norte-americano disse esperar que os russos negociem “de boa-fé”, “a sério e que não o façam apenas para criar uma imagem” de boa vontade. “Encorajo a Rússia” a contribuir para “a reabertura dos portos e que o faça rapidamente. Porque a necessidade é imediata”, disse.
Questionado sobre um plano do presidente dos EUA, Joe Biden, de estabelecer silos na Polónia para receber grãos ucranianos, Tom Vilsack explicou que se trata de “reduzir o risco de perda” de cereais, evitar o seu roubo e preservar a qualidade dos mesmos.
Vilsack anunciou ainda que o Governo norte-americano e o Ministério da Política Agrária e Alimentação da Ucrânia estabeleceram um Memorando de Entendimento para melhorar a coordenação entre os setores agrícola e alimentar dos dois países e construir uma parceria estratégica para abordar a segurança alimentar.
“Este memorando ampliará a parceria estratégica entre as nossas duas nações e alavancará a nossa força coletiva para aumentar a produtividade, abordar questões da cadeia de suprimentos e identificar desafios de segurança alimentar. Este é um importante passo e, quando implementado, irá permitir combater melhor a insegurança alimentar global juntos”, disse Vilsack.
Atualmente, “a Rússia bloqueia pelo menos 20 milhões de toneladas de cereais ucranianos que não podem chegar aos mercados mundiais”, denunciou Josep Borrell, pedindo também a Moscovo que permita a reabertura dos portos sob bloqueio russo.
“É o equivalente a 300 navios enormes que deveriam atracar em portos ao redor do mundo. Em vez disso, a Rússia está a bombardear os portos, a infraestrutura e as terras agrícolas da Ucrânia”, disse o líder europeu.
Já o embaixador russo na ONU, Vasily Nebenzya, rejeitou essas acusações: “Estão a tentar colocar a culpa na Rússia, com alegações infundadas de bombardeamentos de armazéns de grãos, bloqueios de grãos. Não há nenhum obstáculo nesse sentido”.
Na quarta-feira, a Turquia anunciou que estava pronta para sediar “uma reunião de quatro vias”, com a ONU, Rússia e Ucrânia, para organizar a saída dos cereais ucranianos pelo Mar Negro.
“A Turquia apoia” o plano proposto pela ONU “e aguarda o retorno da Rússia”, disse o ministro turco das Relações Exteriores, Mevlut Cavusoglu, acrescentando que as reuniões técnicas entre os soldados continuam.
“Devemos responder às preocupações de todos”, disse o ministro. “A Rússia quer ter certeza de que os barcos não carregam armas e a Ucrânia quer ter certeza de que a Rússia não usará esses corredores para atacar”, explicou.