Empresários venezuelanos manifestaram hoje preocupação pela escassez de fertilizantes e aumento do preço do trigo e do milho amarelo devido à invasão da Ucrânia pela Rússia, alertando que a produção local é insuficiente para abastecer a população da Venezuela.
“Tanto a Rússia como a Ucrânia são países muito importantes na produção de fertilizantes. Representam pelo menos 40% da produção global. No que se refere ao trigo, ambos representam 30% da produção mundial e no caso do milho amarelo, um pouco menos, 25%”, disse o agrónomo Saúl Elías López aos jornalistas.
López, que também é presidente da Sociedade Venezuela de Engenheiros Agrónomos, disse que a Venezuela “é o terceiro país mais desigual da região”.
“O conflito faz com que o acesso seja muito mais complexo e afeta matérias-primas como o trigo sobretudo a nível de importação”, disse, precisando que os venezuelanos precisam “de um milhão de toneladas anuais de trigo e em menor quantidade de milho amarelo”.
Segundo Saúl Elías Lopez, os níveis de produção na Venezuela não cobrem atualmente a procura de milho amarelo que é usado na preparação de alimentos para aves, porcos e outros.
Por outro lado, Juan Carlos Montesinos, presidente da Associação Venezuelana de Agricultura Familiar (AVAF), explicou que o Governo venezuelano anunciou recentemente que alguns produtos importados deixariam de estar isentos da exoneração de impostos, mas que não há informação sobre quais.
“Temos uma grande percentagem de importação de alimentos e alimentos processados. O transporte marítimo aumentou e há que aumentar os preços. No país não há suficiente produção de trigo, a que há cobre apenas alguns Estados como Mérida”, explicou Montesinos.
O presidente da AVAF realçou que se tem “visto um aumento dos preços dos alimentos”: “no caso do pão, já temos um aumento de até 70%” e não se verifica “nenhum tipo de conversação ou negociação” para acabar com uma situação que pode prolongar no tempo.
“Fazemos um apelo ao Governo venezuelano para que nos sentemos à mesa com todos os grémios e setores, para fazer uma planificação agroalimentar, para analisar qual o consumo e o que podemos produzir para conseguir uma estabilidade e evitar as importações desleais que prejudicam o produto nacional”, disse.
Segundo Juan Carlos Montesinos, esta crise já está a “afetar a Venezuela” tendo provocado um aumento geral do custo dos alimentos de uns 25% e nalguns produtos de entre 65% e 70% como a carne.
“Temos igual condições de inflação bastante importantes. O país saiu da hiperinflação, que desacelerou, mas está a inflação dos alimentos, que são dos produtos mais caros”, explicou, precisando que uma eventual imposição de preços causará escassez como já aconteceu no passado.