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Ucrânia: Alemanha acolhe encontro internacional sobre escoamento de trigo

O Governo alemão acolhe na sexta-feira uma conferência internacional para encontrar formas de escoar o trigo que está retido na Ucrânia e não chega aos mercados estrangeiros devido ao bloqueio dos portos ucranianos pelo exército russo.

Entre os participantes no encontro estará o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, indicaram hoje fontes do Governo alemão.

A conferência decorrerá no Ministério dos Negócios Estrangeiros, em Berlim, e os anfitriões serão, além da titular da pasta, Annalena Baerbock, o ministro da Agricultura, Cem Özdemir, e a ministra da Cooperação Económica, Svenja Schulze.

No convite para a conferência, adverte-se para o risco de a guerra russa na Ucrânia poder desencadear uma crise alimentar mundial, por causa do bloqueio dos portos ucranianos.

“Trata-se de encontrar caminhos para que os cereais possam sair da Ucrânia e também, por outro lado, de estabilizar a situação alimentar nos países mais ameaçados por uma crise alimentar”, disse Annalena Baerbock sobre a conferência, após uma reunião de ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia (UE) no Luxemburgo.

No encontro da próxima sexta-feira, deverão estar presentes representantes dos países do G7 (grupo dos países mais industrializados do mundo: Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido, além da Alemanha) e dos países mais afetados pela escassez de cereais provocada pela guerra na Ucrânia.

A Ucrânia é um dos principais produtores de cereais do mundo. Atualmente, estima-se que haja cerca de 25 milhões de toneladas de cereais retidos nos portos ucranianos.

Mesmo assim, apesar da guerra e dos portos bloqueados, o país está a exportar 1,5 milhões de toneladas de cereais por mês – por terra, usando a ferrovia e as estradas que não estão destruídas, indicou hoje a embaixadora do MNE ucraniano, Olha Trofimtseva.

“Nos últimos meses, exportámos uma média de 1,5 milhões de toneladas de cereais por terra, por via ferroviária e rodoviária”, disse a diplomata, que é também coordenadora do Conselho de Exportadores e Investidores, segundo a agência local Ukrinform.

A responsável indicou que as infraestruturas e a logística europeias não estavam preparadas para a quantidade de cereais exportados pela Ucrânia por via terrestre, elogiando os esforços da Polónia, da Alemanha e de outros países para construir centros de trânsito nas fronteiras, acelerar a passagem de comboios com cereais ucranianos entre países para portos onde podem ser carregados em navios.

“Recentemente, ouvimos o Presidente [norte-americano, Joe] Biden dizer que os Estados Unidos também vão construir instalações provisórias de armazenamento de cereais na Polónia, perto da fronteira com a Ucrânia, para aliviar as da Ucrânia antes da colheita de 2022”, afirmou.

A diplomata ucraniana chamou igualmente a atenção para o facto de os parceiros europeus terem simplificado ao máximo todos os procedimentos de controlo aduaneiro e fitossanitário, para que os cereais ucranianos cheguem rapidamente aos consumidores finais.

Não conseguiram, até agora, chegar aos mercados internacionais devido ao bloqueio russo dos portos ucranianos cerca de sete milhões de toneladas de trigo, 14 milhões de toneladas de milho, três milhões de toneladas de óleo de girassol e três milhões de toneladas de farinha de girassol, de acordo com o Governo de Kiev.

Tal levou já a um aumento recorde dos preços dos cereais no mercado mundial e, segundo diversos organismos, poderá provocar uma crise alimentar global e uma inflação crescente.

A Ukrinform recordou ainda que o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmytro Kuleba, assegurou a 31 de maio que a Ucrânia está a trabalhar numa operação internacional liderada pela ONU, com frotas parceiras, para criar rotas comerciais seguras para a exportação de produtos alimentares da Ucrânia.

A Rússia lançou na madrugada de 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que causou já a fuga de mais de 15 milhões de pessoas de suas casas – mais de oito milhões de deslocados internos e mais de 7,7 milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Também segundo as Nações Unidas, cerca de 15 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.

A invasão russa – justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e a imposição à Rússia de sanções que atingem praticamente todos os setores, da banca ao desporto.

A ONU confirmou que 4.569 civis morreram e 5.691 ficaram feridos na guerra, que hoje entrou no seu 117.º dia, sublinhando que os números reais poderão ser muito superiores e só serão conhecidos quando houver acesso a zonas cercadas ou sob intensos combates.


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