O declínio das populações de lince-ibérico em liberdade foi uma constante desde os anos 50 até, pelo menos, 2004, em toda a sua área de distribuição. A perseguição humana e a escassez de coelho-bravo foram as principais causas do declínio desta população, levando a espécie ao próprio limiar da extinção. Por esta razão, desde o início do século XXI, foram lançadas diversas iniciativas de conservação, incluindo vários projetos LIFE desde 2002 até aos dias de hoje e o desenvolvimento da reprodução em cativeiro no âmbito do programa de conservação ex situ. Graças a este grande esforço de conservação, a população de lince-ibérico tem continuado a crescer numericamente e em relação à sua área de presença nos últimos anos.
São, agora, apresentados os resultados do trabalho de censo das populações de lince-ibérico, desenvolvido em 2021 em Espanha e em Portugal, realizado pelas Administrações de Conservação da Natureza competentes com a colaboração de organizações não governamentais que têm vindo a apoiar o trabalho de monitorização e conservação da espécie. A população continua a crescer e estabilizou em mais de 1.000 exemplares.
Resultados
Em 2021 registaram-se 13 núcleos populacionais de linces, dos quais 12 foram encontrados em Espanha – cinco núcleos em Andaluzia, três em Castilla-La Mancha, quatro na Extremadura – e mais um núcleo em Portugal.
Em 2021 foram recenseados 1.365 exemplares em toda a Península Ibérica, distribuídos entre Espanha, com 1.156 indivíduos (84,7%), e Portugal com 209 indivíduos (15,3%). A Andaluzia (519 indivíduos; 38,0% do número total de linces), Castilla-La Mancha (473; 34,7%) e Extremadura (164; 12,0%) são as comunidades autónomas com uma presença estável da espécie.
Os números fornecidos pelos censos das diferentes comunidades autónomas espanholas apresentam resultados para uma produtividade de crias nascidas por fêmea territorial reprodutora em território Espanhol de 1,8 no cálculo geral do país, enquanto que os resultados para Portugal foram de 2,3. Nas comunidades autónomas espanholas, os rácios de crias nascidas foram os seguintes: Andaluzia 1.4; Castilla-La Mancha, 2.4; e Extremadura, 1.4.
A proporção entre machos/fêmeas adultos e juvenis foi de 0,99 a favor das fêmeas (347 machos/352 fêmeas).
PORTUGAL
Portugal conta com um núcleo de reprodução localizado no sudeste do país – o Vale do Guadiana – que forneceu um censo total de 209 indivíduos durante 2021, dos quais 139 são adultos ou jovens. Foram contabilizadas 31 fêmeas reprodutoras, que deram à luz 70 crias durante a época de 2021.
Quadro
ESPANHA
Andaluzia
A Andaluzia tem cinco núcleos de reprodução, com um total de 519 indivíduos recenseados durante a época de 2021, distribuídos pelos seguintes grupos: Andújar-Cardeña (Jaén e Córdoba) com um total de 200 indivíduos recenseados em 2021, dos quais 134 são adultos ou subadultos, e entre eles 54 fêmeas reprodutoras, e 66 crias. Guarrizas (Jaén) suporta 164 indivíduos, dos quais 104 são adultos, incluindo 32 fêmeas reprodutoras, e 60 crias. Doñana-Aljarafe (Sevilha-Huelva) tem 94 indivíduos, dos quais 65 são adultos ou subadultos – com 23 fêmeas reprodutoras – e 29 crias. Guadalmellato (Córdoba) tem um total de 44 indivíduos contados, dos quais 32 são adultos e 12 crias, com 13 fêmeas reprodutoras. Finalmente, a área de Sierrra Norte (Sevilha) tem um total de 17 indivíduos contados em 2021, dos quais dez são adultos, incluindo duas fêmeas reprodutoras que deram à luz sete crias.
Castilla-La Mancha
A comunidade de Castilla-La Mancha tem três núcleos de reprodução com um total de 473 exemplares contados durante a época de 2021. Montes de Toledo (Toledo) tem um censo total de 221 exemplares em 2021, dos quais 117 são adultos. Entre estes, 36 fêmeas deram à luz 104 crias em 42 territórios. A Sierra Morena Oriental (Ciudad Real) acolhe 170 linces no total, dos quais 104 são adultos, com 27 fêmeas que se reproduziram em 30 territórios numa produção de 66 crias. Finalmente, o núcleo da Sierra Morena Ocidental (Ciudad Real) alberga 82 linces, dos quais 44 são adultos – com 16 fêmeas reprodutoras – e 38 crias nascidas durante 2021.
Extremadura
A comunidade da Extremadura apresenta quatro núcleos de reprodução em 2021, com um total de 164 espécimes recenseados. No vale do rio Matachel (Badajoz), que inclui os sub-núcleos de Alange e Hornachos, foram contabilizados 121 exemplares, dos quais 89 são adultos ou jovens e, destes, 26 correspondem a fêmeas reprodutoras que deram à luz 32 crias. O núcleo do rio Ortigas (Badajoz) tem um total de 20 espécimes, dos quais 13 são adultos, com três fêmeas reprodutoras e sete crias. O núcleo de Valdecigüeñas (Badajoz) tem nove exemplares, cinco dos quais são adultos, incluindo duas fêmeas reprodutoras; em 2021, a primeira reprodução foi registada com um total de quatro crias. Por outro lado, o núcleo de Valdecañas-Ibores (Cáceres), e um pequeno núcleo que atravessa a fronteira entre Cáceres e Toledo, no nordeste da província de Cáceres, tem um total de 14 indivíduos, nove dos quais são adultos, com três fêmeas reprodutoras e cinco crias de duas das fêmeas.
O artigo foi publicado originalmente em ICNF.