A IACA – Associação Portuguesa dos Industriais de Alimentos Compostos para Animais – promove a Reunião Geral da Indústria num momento em que a Segurança Alimentar, a nível mundial, é afetada pelo conflito na Ucrânia.
O acesso à alimentação em Portugal, tal como a incerteza na disponibilidade de cereais -uma das principais matérias-primas para a alimentação de animais que dão origem a carne, peixe, leite e ovos- estão em debate a 30 de junho, quinta-feira, no encontro, que tem lugar na Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa. Durante a manhã os trabalhos reúnem mais de uma dezena de oradores, responsáveis pelas áreas de produção alimentar mais significativas para Portugal e são encerrados pela ministra da Agricultura e Alimentação, Maria do Céu Antunes.
A Reunião Geral da Indústria promovida pela IACA tem como orador principal Pedro Pimentel, Diretor-Geral da CENTROMARCA, que aborda o tema “Temporal Inflacionista: as tempestades nunca são perfeitas”. A abordagem de Pedro Pimentel dá o mote à conversa acerca da produção e acesso a alimentos humanos num contexto em que, para a sua produção, concorrem diversos fatores de instabilidade. Representantes do setor da suinicultura, avicultura, lacticínios e produtos agrícolas, tal como representantes das empresas importadoras de cereais e da Grande Distribuição estão presentes no encontro. Em conjunto discutem a guerra na Ucrânia e a consequente limitação no acesso a cereais com origem neste país, a acumulação de stocks realizada pela China em 2021, a atual proibição de exportação de trigo por parte da Índia, a instabilidade dos preços de diversas matérias-primas alimentares que sofrem alterações em alta em função da intensidade do conflito iniciado pela Rússia e a pressão dos fundos de investimento que, encarando os cereais como um ativo contribuem para a espiral especulativa do seu preço. A atenção está também focada no valor da inflação em Portugal, que chegou já aos 8%, e à qual os preços da alimentação no consumidor final não serão alheios.
Segundo Romão Braz, Presidente da IACA “urge aprofundar o debate acerca da Soberania Alimentar de Portugal e da Europa. Para tal é essencial atender às questões da Economia Circular, ou seja, intensificar o uso de coprodutos enquanto matérias-primas e alinhar, a nível mundial, as políticas que regulam a Segurança Alimentar e Ambiental. Também é importante ter em conta, no curto prazo, que os contratos que as empresas de alimentação animal estão a celebrar, sobretudo com os seus fornecedores de cereais, são fortemente onerados pela instabilidade mundial e, assim sendo, é importante realçar que as linhas de crédito já anunciadas ficam aquém do enorme esforço de tesouraria efetuado pela indústria.”
Jaime Piçarra, Secretário-Geral da mesma entidade afirma “O momento pelo qual estamos a passar indica-nos que devemos intensificar algo que a IACA, por exemplo, já vem fazendo: investir na investigação de matérias-primas alternativas como faz o CoLAB FeedInov que investiga algas, insetos, proteaginosas (fava ou grão-de-bico, por exemplo), matérias-primas cuja produção necessita de ganhar escala para que possam efetivamente ser consideradas como opção para a nossa indústria. Um dos trabalhos que se apresenta durante a tarde de dia 30 de junho tem precisamente a ver com isso. É o nosso contributo, não só para o presente, como também para o futuro. Há desafios que já existiam antes da guerra na Ucrânia e, previsivelmente, vão continuar a existir. Com ou sem guerra estamos obrigados enquanto sociedade a ultrapassá-los. O estudo que fizemos no âmbito do projeto SANAS – Segurança alimentar, nutrição animal e sustentabilidade na alimentação animal na região do Alentejo – é um dos nossos contributos para o futuro.”
Na sessão de abertura da Reunião Geral da Indústria, além de Romão Braz, Presidente da IACA, está, igualmente, Rui Caldeira, Presidente da Faculdade de Medicina Veterinária, e Jorge Tomás Henriques, Presidente da FIPA (Federação das Indústrias Portuguesas Agro-alimentares).