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Crise alimentar “pode ter consequências perigosas” para a paz em África – PR egípcio

O Presidente do Egito defendeu hoje a urgência de os países africanos, em coordenação com os parceiros internacionais, encontrarem soluções para a crise alimentar, que “pode ter consequências perigosas para a paz e a estabilidade” em África.

“Esta crise poderá ter consequências perigosas para a paz e a estabilidade da nossa sociedade, o que naturalmente exige um pacote de decisões eficazes para coordenar os nossos esforços com os parceiros internacionais e reforçar o apoio aos países africanos”, disse Abdel Fatah al-Sisi na sessão de abertura do Fórum Aswan Para a Paz e o Desenvolvimento Sustentáveis, que decorre até quarta-feira, no Cairo, em modelo presencial e virtual.

Numa intervenção gravada, o chefe de Estado do Egito apelou a medidas que permitam garantir a segurança das fontes alimentares e da cadeia de valor, nomeadamente permitindo o acesso dos países africanos às tecnologias desenvolvidas no campo da agricultura.

Recordando que o Egito acolhe em novembro a 27.ª conferência das partes da ONU sobre alterações climáticas (COP27), Sisi disse tratar-se de uma oportunidade para reforçar os esforços nesse âmbito, uma vez que África é “o continente mais sensível às consequências” do aquecimento global.

“Isso impõe-nos a responsabilidade de concretizarmos os nossos compromissos relativos à adaptação, à luta contra as alterações climáticas e à promoção da nossa resiliência”.

Também numa mensagem gravada transmitida durante as declarações iniciais do Fórum Aswan, o secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu aos países que cheguem à COP27 no Egito “determinados, com planos claros para fechar a falta de financiamento” para projetos de energias renováveis em África, uma vez que, apesar do seu “enorme potencial em energias renováveis”, o continente só recebeu na última década 2% dos investimentos neste setor.

Apelou também aos países que trabalhem com a Organização Meteorológica Mundial para garantir que todas as pessoas no mundo são abrangidas, nos próximos cinco anos, por sistemas de alerta precoce para desastres climáticos, recordando que seis em cada dez africanos ainda não estão protegidos por estes sistemas.

Guterres sublinhou que o Fórum Aswan ocorre num momento em que África enfrenta “crises multidimensionais sem precedentes”: Aos efeitos da pandemia de covid-19 junta-se o enorme aumento dos preços dos alimentos, dos combustíveis e dos fertilizantes, provocados pela guerra na Ucrânia, a falta de acesso a vacinas, uma crise financeira que impede os países de acederem ao alívio da dívida ou a financiamento para a recuperação, e ainda uma crise de instabilidade, terrorismo e conflitos.

“África só contribui para 3% das emissões de gases com efeito de estufa, mas muitos países no continente estão a pagar um preço descomunal em secas, fome, colheitas destruídas, erosão e desaparecimento de comunidades costeiras”, lembrou Guterres.

O secretário-geral da ONU instou por isso a comunidade internacional: “Precisamos de ação agora!”.

“Precisamos de uma ação climática ousada. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas identificou a África como um `hotspot` global para a crise climática. (…) Muitos Estados-membros da União Africana apresentaram planos nacionais ambiciosos, identificaram claramente necessidades de adaptação e adotaram o programa de estímulo verde da União Africana. O mundo deve corresponder às ambições de África com recursos, financiamento e tecnologias para acelerar a transição do carvão e outros combustíveis fósseis para renováveis”, sublinhou Guterres.

Também o presidente da Comissão da União Africana, Moussa Faki Mahamat, alertou para os riscos das alterações climáticas para o futuro do continente africano: “São uma ameaça para a nossa existência e a nossa civilização. São um obstáculo significativo para a realização” do futuro de África.

Mahamat lembrou ainda que as alterações climáticas “criam insegurança, acentuam a pobreza e abrem espaço para conflitos, além de exacerbarem o crescimento do terrorismo e do extremismo violento”.

Apelou por isso a “ações concretas”, nomeadamente que os países desenvolvidos honrem os seus compromissos nas negociações sobre alterações climáticas na COP27, que o financiamento chegue às comunidades mais afetadas e que se invista na preparação e na resiliência.

Sob o tema “África numa era de riscos em cascata e vulnerabilidade climática: Caminhos para um continente pacífico, resiliente e sustentável”, o Fórum Aswan Para a Paz e o Desenvolvimento Sustentáveis decorre até quarta-feira em formato híbrido — presencial e digital, pretendendo preparar o caminho para a Conferência das Partes sobre alterações climáticas (COP27), também prevista para o Cairo, em novembro.

Criado em 2019 pelo Presidente egípcio, Abdel Fatah al-Sisi, o Fórum Aswan terá este ano um “ênfase especial na questão do clima e no seu impacto na segurança e na paz”, uma vez que os crescentes fenómenos climáticos extremos podem não ser “a causa direta do conflito, mas podem alimentar o conflito” e “podem ser um catalisador, um multiplicador do risco de conflito”, disse numa recente conferência de imprensa Ahmed Abdellatif, diretor-geral do Centro Internacional do Cairo para Resolução de Conflitos, Manutenção da Paz e Construção da Paz, que organiza o Fórum.


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