Cavaco Silva sublinha importância de ratificar acordo de comércio livre entre UE e Mercosul

O antigo Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, sublinhou hoje a importância de ratificar o acordo de comércio livre entre União Europeia e Mercosul, que será o “maior contributo” para o fortalecimento das relações económicas entre Portugal e Brasil.

Cavaco Silva participou hoje num painel da conferência “Brasil e Portugal: Perspetivas de Futuro”, que decorre na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, juntamente com o antigo chefe de Estado António Ramalho Eanes e o antigo Presidente brasileiro Michel Temer.

De acordo com Cavaco Silva, nas relações entre Brasil e Portugal, na área económica, do comércio e do investimento, os resultados ficam aquém das expectativas, ao contrário das relações humanas, académicas, da CPLP ou do acordo ortográfico, em que as “relações têm corrido muito bem”.

“Depois de 20 anos de negociação entre a União Europeia e o Mercosul, os dois blocos chegaram a um acordo para a constituição de uma zona de comércio livre. Ao fim de três anos ele ainda não foi ratificado e não sei se algum dia será ratificado”, lamentou.

Na opinião do antigo chefe de Estado, “a entrada em vigor deste acordo de comércio livre é o maior contributo” que se pode dar “para o fortalecimento das relações económicas e de investimento entre Portugal e o Brasil”.

“Por isso, Portugal tem estado na primeira linha, juntamente com a Espanha, para que seja feita pressão sobre todos os estados-membros para que a ratificação ocorra”, explicou.

Numa altura em que aproxima a comemoração dos 200 ano da independência do Brasil, “um país chave dentro do Mercosul”, Cavaco Silva manifesta “alguma esperança de que, passado este tempo de guerra na Ucrânia, a União Europeia se possa concentrar sobre a importância deste acordo de comércio livre com o Mercosul e os parlamentos acabem por o aprovar”.

Segundo Cavaco Silva, este acordo “tem de ser ratificado pelo Parlamento Europeu, por cada um dos parlamentos dos 27 estados-membros da União Europeia e alguns dos membros da UE têm dúvidas em fazê-lo”.

“A oposição vem basicamente dos agricultores europeus de alguns países que receiam a competição dos produtos agrícolas brasileiros e vem dos ambientalistas que receiam que esse acordo aumente a desflorestação da Amazónia”, elencou.

Já Ramalho Eanes considerou que “muito há a fazer e muitos passos ultimamente se tem dado” para uma “aproximação e uma cooperação maiores entre Portugal e Brasil” graças ao turismo e à migração.

“Uma cooperação é indispensável e lembrando ainda aquilo que aconteceu na Europa, essa cooperação só pode ganhar dimensão e propósito estratégico se porventura houver uma intervenção do Estado. Não está na moda falar da intervenção do Estado, mas um Estado interventivo neste caso é importante porque só o Estado pode fazer um trabalho que eu entendo que é indispensável, defendeu.


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