O investigador na área da proteção civil Duarte Caldeira alertou hoje para o risco elevado de incêndio florestal que se mantém no país, apesar do dispositivo de combate aos fogos estar estabilizado e consolidado.
“Os potenciais de risco mantêm-se em elevada percentagem”, disse à agência Lusa o presidente do Centro de Estudos e Intervenção em Proteção Civil (CEIPC), no dia em que o dispositivo de combate a incêndios rurais é reforçado ao entrar na sua capacidade máxima.
Duarte Caldeira, que pertenceu também ao observatório técnico independente criado pelo parlamento até 2021 para avaliar os incêndios florestais, afirmou que “na ótica do combate não há, neste momento, necessidade de acrescentar mais meios, porque o dispositivo está estabilizado”.
“Não é aí [dispositivo] que está o problema. O problema está em avaliar se as medidas que estão a montante do combate estão a resultar. Falta a adequada avaliação que não está feita”, precisou.
O antigo presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses e da Escola Nacional dos Bombeiros lamentou que se continue a falar em combate passados cinco anos dos incêndios mais mortais do país, quando “falta fazer a devida avaliação” à prevenção.
“Porque ainda não foi alterada de forma substancial o perfil de risco do espaço florestal rural país, em particular das zonas do interface urbano florestal, onde todos os anos ocorrem incêndios gravíssimos”, questionou, sublinhando que atualmente há “o mesmo perfil de risco que há exatamente cinco anos”.
Duarte Caldeira sustentou que continua a existir o mesmo risco que em 2017.
“O potencial está cá todo”, disse.
O Centro de Estudos e Intervenção em Proteção Civil fez este ano um levantamento da situação nas zonas onde ocorreram os incêndios em junho e outubro de 2017.
“O que concluímos é que na esmagadora maioria do território afetado por esses incêndios a carga de combustível instalada no terreno é exatamente a mesma e, em alguns, casos pior, sendo a única exceção visível nas zonas envolventes das vias rodoviárias”, disse.
Duarte Caldeira sublinhou que, no que se refere à carga de combustível disponível, “verifica-se que o risco continua a ser elevadíssimo, porque não houve desde 2017 resultados palpáveis no domínio da redução do combustível que leva a mitigação do risco”.
Apesar do risco se manter elevado, o especialista realçou que “o perfil meteorológico até agora é favorável”, uma vez que as temperaturas têm estado baixas para a época do ano, apesar da situação de seca.
Segundo Duarte Caldeira, o nível de secura do combustível no solo não se agravou devido à temperatura que não tem sido elevada.
No entanto, salientou que a situação pode alterar-se com o aumento das temperaturas em julho, associado à seca e aos níveis de combustíveis no solo.
Duarte Caldeira considerou ainda que o nível do dispositivo do combate aos incêndios se “consolidou e estabilizou há dois anos”.
“Este ano foram acrescentados mais alguns meios, no que se refere à organização estrutural do dispositivo e à tipologia de meios alocados, mas há uma estabilização do dispositivo de combate. Atendendo à experiência dos dois anos anteriores, não se justificaria neste momento o aumento de outros meios se não aqueles que estão disponíveis”, disse.
O especialista considerou que “não será por insuficiências ou limitações do dispositivo, enquanto meios, que o risco ou as preocupações poderão aumentar”.
A partir de hoje e até 30 de setembro vão estar operacionais 12.917 operacionais, 3.062 equipas, 2.833 veículos e 60 meios aéreos.