O Presidente da República apelou hoje a que os portugueses e os “responsáveis autárquicos” limitem atividades que “envolvam riscos” em zonas rurais, considerando que todos os cidadãos “estão no teatro de operações em termos potenciais”.
“Por aquilo que [os portugueses] façam ou não façam, a floresta pode ter condições para arder – e agora, infelizmente, há uma parte que tem muitas condições para arder -, mas não arderá, se não houver também (…) negligência que provoque – pelo uso do fogo, nomeadamente da proximidade de habitações, pelo uso de máquinas que aumentem o risco de fogo – a criação de circunstâncias propícias a causar incêndios”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa.
O Presidente da República falava aos jornalistas na sede da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, em Carnaxide, Oeiras (Lisboa), depois de participar na reunião do Centro de Coordenação Operacional Nacional (CCON), em que também marcou presença o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, a secretária de Estado da Proteção Civil, Patrícia Gaspar, e o secretário de Estado da Conservação da Natureza e Florestas, João Paulo Catarino.
Marcelo frisou que os portugueses “têm que ter a noção de que todos eles estão, à sua maneira (…) no teatro de operações em termos potenciais”, apelando a que a população em geral, “mas também responsáveis autárquicos”, limitem as atividades que envolvam riscos em zonas rurais.
“Certo tipo de certames, ou organizações, merendas, piqueniques coletivos, festejos em zona rural que envolvam, ou possam envolver, consequências em termos de ignição, devem ser condicionadas neste período”, sublinhou.
O Presidente da República deu designadamente o exemplo de uma “competição motorizada numa zona florestal”, que passe por “áreas onde pode, de repente, haver uma travagem, uma derrapagem” que provoque “uma ignição”, apelando a que esse tipo de atividades seja “revista”.
“Eu sei que incomoda muito estar a mudar o percurso de uma competição de ‘motard’ – incomoda muito –, mas passa de meio rural, ou florestal, para meio urbano, o risco diminui. Umas festas, que são muitas nesta altura, no meio rural, serem condicionadas, num pequeno esforço, durante um número limitado de dias, para evitar o tal pico que corremos o risco de ter”, referiu.
Marcelo Rebelo de Sousa sublinhou que sabe que, depois de dois anos de pandemia, “se vive na sociedade portuguesa um clima de desconfinamento” – o que considerou “natural” e “legítimo” –, mas alertou para o sentimento de que os incêndios são um fenómeno longínquo para os cidadãos que vivem em zonas urbanas.
“Esse desconfinamento convida a que as pessoas vejam este fenómeno dos incêndios como uma coisa longínqua: ‘nós estamos aqui, e os incêndios estão lá noutro país’. Só, que, por acaso, esse outro país é cada vez mais próximo do país onde as pessoas desconfinam, porque mesmo nas áreas urbanas há uma grande proximidade de alguns dos incêndios”, sublinhou, dando o exemplo dos incêndios que lavram em Ourém – que, “no fundo, são a grande Lisboa” – ou em Santarém, que “pertence à realidade que é a grande Lisboa”.
O chefe de Estado reiterou assim o apelo para que os portugueses não tenham comportamentos de risco: “É um esforço coletivo que vale a pena fazer com as lições que já tirámos no passado”, acrescentou.
Nesta declaração aos jornalistas, de cerca de 20 minutos, Marcelo Rebelo de Sousa quis ainda deixar uma palavra de agradecimento ao “dispositivo de proteção civil que está no terreno”, elencando instituições como “os bombeiros, proteção civil, Forças Armadas, GNR, Saúde”, e “todos os que trabalham em termos de sapadores, agentes florestais, vigilantes da floresta”.
“Sabemos que já estão muitos, há muito tempo, envolvidos e, num ou noutro caso, em condições desgastantes. (…) [Queria deixar uma palavra], por um lado, de agradecimento e, por outro lado, de apoio, de apoio incondicional. Penso que todos os portugueses sentirão isso”, disse.