A situação no concelho de Pombal foi relativamente mais calma durante parte da manhã e início da tarde de hoje, mas ainda não dá para descansar, pois “nunca se sabe” quando é o que vento “faz das suas”.
Raul Roxo olha atento para pequenos focos de incêndio junto à localidade de Rebolo, no concelho de Pombal, onde já parece que não há muito mais para arder – muitos dos terrenos a norte, antes povoados por pinheiros, sobreiros, mato e eucalipto, são agora terras enegrecidas e povoadas por árvores mortas de pé.
No entanto, a calmaria poderá ser passageira, alerta aquele funcionário da Junta de Freguesia de Abiul, que já anda de volta do fogo que parece não dar descanso há quase uma semana.
“Por agora, está a arder para zona que já ardeu, mas basta o vento mudar para ali [para leste] e apanha aqueles eucaliptos e lá vai ele”, afirma Raul, à agência Lusa.
Todos os dias têm sido cumpridos atrás daquele incêndio que começou na sexta-feira, em Vale das Pias, com uma carrinha ‘pickup’ e um tanque de 500 litros de água, que parece sempre “muito pouco” para as chamas que vão encontrando.
Já andou por Vale Perneto, Ribeira de Ansião, Fontainhas, Ramalhais e Cancelinha, entre outras localidades, enumera.
“Corremos tudo a tentar ajudar onde é possível, mas o vento está sempre a trocar-nos as voltas”, admite.
Recorda momentos antes, em que andavam a apagar um pequeno foco com uma corporação de bombeiros e um vento levantou-se “de repente”.
“Teve tudo de fugir, nós e os bombeiros. Assim que sobe às copas, só dá para fugir”, admite, salientando que as voltas do vento não permitem descansar.
“Aqui não temos horário. Ontem peguei às 06:00 e saí às 01:00. É o incêndio que manda”, afirma o colega de Raul, Jacinto Luís.
Apesar de considerar que hoje tem estado mais calmo, os dias anteriores têm mostrado a todos que não dá para sair de um permanente estado de alerta.
Vitória Gonçalves, numa das pontas daquela localidade de Pombal, sabe bem as voltas que o fogo tem dado por ali.
O incêndio passou três vezes pela localidade, sempre atacando pontos diferentes, a última hoje de manhã, já perto da sua casa.
“Estivemos até às três da manhã a ver se ele vinha. Via-se o encarnado atrás da serra e fazia um barulho que até tive de pedir uns ‘coisos’ para os ouvidos”, recorda.
Apesar de não ter aparecido de madrugada, surgiu de manhã, destruindo terrenos de Vitória: pinheiros, oliveiras e medronheiros.
“Toda a vida a trabalhar na terra que nem uma negra, a ganhar a pensão de sobrevivência e a floresta era um rendimentozinho para se passar melhor a reforma. E lá veio o incêndio, que parecia um cavalo por esses montes adentro. Isto é triste. É muito triste”, lamentou a mulher de 76 anos.