Agricultura de Precisão, Imagens Aéreas de Alta Resolução e o Google Earth – Ricardo Braga

Num artigo publicado aqui no Agroportal faz agora um ano, escrevemos que “A “revolução da informação” está a ter largas consequências ao nível da produção agrícola mundial. Um dos mais claros sintomas desta revolução é a disponibilização de elevadas quantidades de informação a preço reduzido (“Low Cost of Knowledge”). Cada vez é mais barato monitorizar diversas varáveis no campo, analisar os dados no computador e tomar decisões tácticas de acordo com os objectivos de produção.”

Também nesse artigo e noutros de divulgação (ver referências no final) tivemos a oportunidade de exaltar as vantagens da Agricultura de Precisão e de apresentar aplicações específicas. Este artigo serve para dar conta de um recente lançamento que poder ter um impacto interessante na adopção de Agricultura de Precisão no nosso país.

O Google lançou um projecto inovador: Google Earth (http://earth.google.com/). O objectivo é combinar imagens de satélite, mapas e o Google Search para criar um Sistema de Informação Geográfica global. Assim é possível fazer de forma gratuita voos virtuais para “qualquer local no globo” com acesso a imagens aéreas de resolução até 30 cm (permite ver casas, arvores, carros, etc.). É ainda possível procurar escolas, restaurantes, etc. e obter as indicações de condução até esse local. O Google Earth permite também obter o modelo digital do terreno possibilitando ver o relevo a 3D. É também possível marcar pontos nas imagens para “voltar mais tarde”.

Do ponto de vista da Agricultura de Precisão a maior vantagem do Google Earth é o facto de ser gratuito e de fornecer imagens de alta resolução do território. Essas imagens podem dar um contributo significativo na adopção da Agricultura de Precisão. Como sempre, “nem tudo são rosas”: A cobertura das imagens de alta resolução não é total em Portugal. Na figura 1 estão representadas a amarelo a zonas em que é possível obter imagens de alta resolução para Portugal. Para as restantes zonas também existem imagens mas com uma resolução bastante inferior. As imagens têm cerca de três anos de idade, mas estão a ser regularmente actualizadas.

As imagens aéreas em Agricultura de Precisão têm provado ser ferramentas úteis para uma série de objectivos como por exemplo:

1. Antes da emergência/ abrolhamento da cultura

a. Cartografia de infestantes;

b. Cartografia de densidade de restolho;

c. Delineamento de manchas de solo / zonas de maneio intra-parcelar;

d. Cartografia de drenagem natural da parcela;

e. Amostragem de solo orientada;

2. Depois da emergência / abrolhamento até à maturação

a. Monitorização do crescimento da cultura;

b. Previsão do mapa de colheita (em termos relativos);

c. Avaliação da densidade da copa/vigor

No caso concreto das imagens disponíveis no Google Earth, dada a sua baixa resolução temporal, algumas das utilizações listadas ficam inviabilizadas (sobretudo para culturas anuais). Contudo, como se pode confirmar pelos exemplos das figuras 2 a 8, algumas delas tornam-se perfeitamente viáveis, sobretudo se considerarmos que são gratuitas.

O poder das imagens aéreas é extraordinário pela impressão que causa a variabilidade presente na maioria dos casos. Esse poder pode levar o empresário a questionar-se: Será que a variabilidade do solo tem impacte significativo ao nível da produtividade da cultura? Será que a margem bruta da cultura não está a variar no espaço, podendo isso significar estar a perder dinheiro nalgumas zonas da parcela? Será que a aplicação de fertilizantes e pesticidas de forma uniforme no espaço é a forma mais racional de gestão das parcelas? Na melhor das hipóteses, o empresário agrícola decide fazer uma amostragem de solo por mancha para confirmar se as diferenças de fertilidade são significativas e, caso sejam, decide passar a aplicar fertilizantes de acordo com um mapa de prescrição que leve em consideração as especificidades de cada local da parcela e não com base apenas numa média da parcela.

Pivot com 4 sectores em que se pode observar no solo nu, o padrão de drenagem natural do solo e no sector com cultura, zonas menos verdes correspondentes a diferentes manchas de solo em possivelmente em continuação do sector contíguo.
Parcelas de vinha em que no lado direito se encontra uma ampliação da zona assinalada no lado esquerdo.
Pivot com cultura em que se podem observar zonas em que a cultura apresenta pior estado, que serão com certeza zonas de baixa produtividade. Por contiguidade, pode intuir-se que essas manchas correspondem às manchas mais claras presentes na parcela exactamente acima.
Conjunto de parcelas (solo nu) em que se pode observar directamente a rede de drenagem natural do terreno.
Dois pivots: um com cultura e outro com solo nu.
Cultura permanente.

Braga, R., Conceição L.A., (2005). Agricultura de Precisão – Gestão Intra-parcelar da Densidade de Plantas. Vida Rural (a publicar)
Conceição L.A., Braga, R. (2005) Parque de Máquinas, Monitorização de Informação e Viticultura de Precisão. ENOVITIS, Nº 1, Junho/Julho/Agosto de 2005, 20-23.
Braga, R., Conceição L.A., Mendes, J.P., Dias, S. e Mira da Silva, L. (2005). Vindima de Precisão – Vindima Segmentada na melhoria da qualidade dos vinhos. Vida Rural, Junho de 2005, 58-66.
Braga, R. e Conceição L.A. (2004). Sistemas de condução apoiados por GPS: Descrição, Características, Vantagens e Custos de Utilização. Vida Rural, Nº 1700, Setembro de 2004, 30-33.

Ricardo Braga
Professor – Adjunto
Instituto Politécnico de Portalegre
Escola Superior Agrária de Elvas


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