António Vieira, professor de geografia na Universidade do Minho, lembra que “95% dos alimentos que consumimos” dependem do solo.
Os incêndios desta última semana fizeram com que a área ardida em 2021 ultrapassasse os 38 mil hectares. António Vieira, professor de geografia do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho, alerta que é necessário proteger os solos atingidos antes da chegada das chuvas.
“No nosso clima, no outono/inverno, é frequente a ocorrência de períodos de chuva bastante intensa. Não estando protegidos pela vegetação, que é o seu protetor natural, vamos ter nos solos impactos de vária ordem”, alerta o especialista. “Há perda dos nutrientes – que também em parte resulta da ação direta dos incêndios –, há perda da manta morta – matéria orgânica que também cobria o solo – e vamos ter também a remoção dos elementos minerais – as partículas do solo que são fundamentais para todo o desenvolvimento da vida no solo.”
Para evitar que haja uma degradação dos solos, António Vieira sublinha que é importante “identificar as áreas mais críticas e implementar nelas algumas medidas que permitam essa proteção”, seja através de uma sementeira rápida ou usando caruma, palha ou materiais destroçados dos restos da floresta para cobrir esses solos. O especialista reconhece que não é possível proteger toda a área dos incêndios florestais.
“Não será possível, no período de três ou quatro meses, haver uma regeneração natural da vegetação”, afirma. “É um período muito curto para que a vegetação se regenere naturalmente. Teremos de alguma forma implementar estas medidas de emergência para proteger os solos, caso contrário não teremos solos para desenvolver não só floresta, mas também a agricultura.”
O Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas tem “alguma capacidade de intervir, mas essencialmente em territórios que sejam da sua influência”, destaca o professor, afirmando que é necessário “sensibilizar os proprietários para a necessidade de implementar estas medidas”
António Vieira destaca ainda que “95% dos alimentos que consumimos, produzidos de forma direta ou indireta, dependem do solo”, sendo por isso preciso “ter cuidado e proteger este recurso que é extremamente valiosos”.