Decorrida a semana da Agricultura Biológica é interessante reflectir sobre caminhos e estratégias que se devem trilhar para tornar este modo de produção numa real alternativa à agricultura convencional.
A agricultura portuguesa, devido à estrutura fundiária na qual se exerce, ao nível de gestão e competência profissional dos seus empresários e trabalhadores, assim como ao elevado peso do custo da mão-de-obra que incorpora nos produtos, está estagnada e não consegue incrementar a criação de riqueza, valorização do emprego, assim como subir o patamar da sua competitividade económica. Para tal, precisa de produtos de alta qualidade que sejam exportados e comercializados nos mercados dos países desenvolvidos que estejam dispostos a pagar o valor acrescentado da sua alta qualidade. Os produtos da Agricultura Biológica, entre muitos outros, encaixam-se nestes pressupostos e na minha opinião, a exportação é uma das estratégias que deve ser potencializada para alavancar este modo de produção.
Os produtores Bio e as suas Organizações têm utilizar uma estratégia que promova de forma sistemática os contactos com os importadores comercializadores dos seus produtos nos mercados dos países ricos. A partir do potencial de comercialização destas empresas é possível caminhar para montante promovendo no terreno as produções, quer nos produtores já instalados, quer promovendo o aparecimento de novos produtores.
Convém não esquecer que a ideia correcta do Modo de Produção Biológico é fácil de promover junto de novos potenciais agricultores porque continua muito arreigada nos portugueses a ideia que, a Agricultura Biológica é a mesma agricultura que se praticava há trinta a quarenta anos atrás, assim como é igual à agricultura artesanal actual que se pratica nas hortas. Contudo a agricultura biológica distingue-se dos sistemas agrícolas, uma vez que necessita de um maior conhecimento técnico para manter em equilíbrio o ecossistema, necessitando encontrar alternativas naturais no combate às pragas e doenças, na manutenção da fertilidade dos solos, etc. O conhecimento da natureza, dos solos e climas locais, aliados aos conhecimentos técnico e científico são cruciais para obtenção de produções de alta qualidade sem provocar danos ambientais.
É uma estratégia de sucesso, aliar:
- Agricultores e potenciais novos agricultores que estão dispostos a arriscar a produzir (têm motivação e disponibilidade mental para na pior das hipóteses fazer a comercialização das suas produções por não terem à partida garantias de comercialização) com,
- Exportadores nacionais/Importadores de outros países como canais de comercialização e valorização dos produtos Bio e,
- Entidades interessadas no desenvolvimento da Agricultura Biológica (Associações Bio, Câmaras Municipais, agentes de desenvolvimento rural, etc.) que empreguem metodologias que promovem a organização da produção (formação profissional e assistência técnica que promovam a uniformidade dos lotes a exportar, recolha e concentração dos produtos, conservação e embalagem etc.).
Nesta estratégia o mercado português funcionaria como ponto de escoamento complementar à exportação, a qual, seria o motor no desenvolvimento e rentabilidade da fileira da Agricultura Biológica, podendo-se ter a certeza que ao fim de meia dúzia de anos a Agricultura Biológica em Portugal será uma alternativa efectiva à agricultura hoje predominante.
José Martino
Engº Agrónomo
(*) José Martino é licenciado em Agronomia pelo Instituto Superior de Agronomia, Sócio gerente da Empresa “Espaço Visual – Consultores de Engenharia Agronómica, L.da” e Consultor sobre compostagem de Resíduos Sólidos Urbanos na LIPOR e na Câmara Municipal da Maia. É Presidente da Associação Portuguesa de Kiwicultores desde 2004.