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“Usar água na agricultura não é gastá-la, é utilizá-la para produzir alimentos”

“Por enquanto, não há preocupações de maior”, mas “se o Tejo não trouxer água é um problema enormíssimo”, avisa o presidente da Associação dos Produtores de Milho. “Espanha corre em pista própria” na gestão dos caudais dos rios internacionais. Portugal “tem de fazer o trabalho de casa”.

O conflito na região do mar Negro desencadeado pela invasão russa da Ucrânia a 24 de Fevereiro já tinha levado o Conselho Internacional de Cereais (CIC) a antever, em Abril, uma queda de 13 milhões de toneladas na produção global de cereais. Na última semana, a Direcção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural (DGA) reiterou: na União Europeia a produção de cereais terá uma quebra de 2,5% face à campanha anterior.

Portugal está longe de ser um grande produtor de cereais, mas se quiser manter as produtividades no milho e noutros grãos e em várias outras culturas agrícolas tem de continuar a irrigar os solos. E, mesmo assim, nas previsões agrícolas de 22 de Junho o Instituto Nacional de Estatística (INE) foi claro: “Nos cereais de Outono-Inverno prevê-se que o impacto da seca nas produtividades corresponda a um decréscimo entre 10% a 15% o que, aliado a uma área semeada historicamente baixa, agravará a dependência do abastecimento externo”. Também nas fruteiras, em particular nas prunóideas, “as condições meteorológicas não foram favoráveis, prevendo-se decréscimos de produtividade de 15% na cereja e de 10% no pêssego”.

O presidente da EDIA, a Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva, diz ao PÚBLICO que é “difícil fazer alguma restrição nos volumes de rega [na região irrigada pelo Alqueva] num momento como este”, em que se registam temperaturas elevadas e acima da média para o mês de Julho.

Minimizar o desperdício

“A forma de controlar as produtividades [agrícolas] é regando”, frisa José Pedro Salema, garantindo que, “em Alqueva, temos um cenário que permite não ter qualquer restrição, nesta campanha e nas próximas”. A albufeira armazena cerca de 4150 milhões de metros cúbicos água que permitem regar cerca de 120 mil hectares de terrenos agrícolas. Apesar de estar “continuamente de sobreaviso”, o gestor assegura que “o nosso plano de contingência tem medidas tipificadas” e não há razões para alarme.

Nas frutas, legumes, plantas ornamentais e flores reina a inquietação. O presidente da Portugal Fresh, associação que agrega mais de 110 empresas e organizações de produtores do sector, está preocupado com o “calor extremo que se faz sentir em todo o país”, que tem “enorme impacto na produção”, com “quebras de produtividade na grande maioria das culturas e aumento dos custos”. Gonçalo Andrade nem hesita: “com as altas temperaturas, as empresas têm de reforçar a aplicação de produtos de protecção das plantas e é crescente a necessidade hídrica”, apesar das “implicações nos custos diários”.

Ciente da escassez de água para a agricultura, o empresário sublinha que “as empresas têm efectuado elevados investimentos na melhoria e modernização dos sistemas de aproveitamento de água, recorrendo cada vez mais a tecnologia para utilizar este recurso de forma eficiente e minimizando o desperdício”. Exigem é “investimento por parte do Governo na melhoria dos aproveitamentos hidroagrícolas e na adopção de uma verdadeira estratégia para o regadio”.

Espanha rasgará a Convenção de Albufeira?

“Por enquanto, não há preocupações de maior na região do Ribatejo”, afirma, por seu turno, Jorge Neves, presidente da Anpromis — Associação Nacional de Produtores de Milho e Sorgo e director-geral da Agromais, tida como a maior organização de produtores de cereais e hortícolas. “Dependemos das captações subterrâneas e esperamos que não haja problemas nos lençóis freáticos”, diz ao PÚBLICO.

Questionado sobre a possível restrição dos caudais dos rios internacionais devido à seca em Espanha, já equacionada por Pimenta Machado, vice-presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), Jorge Neves muda o tom.

PDR 2020: Uso eficiente da água com 91% de execução
A Medida 7.5 (Uso eficiente da água) do Programa de Desenvolvimento Rural (PDR 2020) atingiu 91% de execução de 2015 a 2021. Candidataram-se, em média, cerca de 770 agricultores e foram apoiados, em média, cerca de 750, por campanha, revelou o Ministério da Agricultura. As candidaturas de 2022 terminaram em Junho e “ainda não foram efectuados pagamentos” desta campanha.

A dotação global do PDR 2020 para esta medida é de 37,1 milhões de euros e o montante pago de 2015 a 2021 foi de 33,8 milhões.

“Se o Tejo não trouxer água é um problema enormíssimo”.

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