A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) alertou hoje que a escassez de fertilizantes devido à guerra na Ucrânia pode reduzir a produção de cereais na região em 20%.
“A escassez de fertilizantes pode provocar um défice na produção de entre 10 e 20 milhões de toneladas, isto é, quase 20% da produção cerealífera em 2021-2022″, alertou a organização sub-regional num relatório publicado no seu portal da Internet.
“Estes défices estão relacionados com vários fatores anteriores, mas aumentam pela escassez de fertilizantes causada pela guerra na Ucrânia”, salientou.
De acordo com o documento, a CEDEAO estima que a África Ocidental enfrentará um défice de fertilizantes entre 1,2 e 1,5 milhões de toneladas, ou entre 10 e 20 milhões de toneladas do equivalente em grãos.
“A muito curto prazo, os países que mais provavelmente serão afetados são o Burkina Faso, Gana e Mali”, especifica.
A CEDEAO também destacou que na África Ocidental e no Sahel as necessidades de fertilizantes estavam cobertas em apenas 46% no final do passado mês de abril.
Este défice varia entre -5% no Benim e -88% no Burkina Faso.
A África Ocidental dependia em 2020 das importações de cereais da Rússia e da Ucrânia em 12%, sendo os países mais dependentes – com mais de 50% das suas importações de trigo provenientes destes dois países europeus – Benim, Cabo Verde, Gâmbia, Senegal e Togo.
Além disso, em 2021, mais de 50% das importações de potássio da Costa do Marfim, Mali, Níger, Senegal e Serra Leoa vieram da Rússia, segundo dados da ONU.
Comparativamente com a média dos últimos cinco anos no mesmo período, em março de 2022 os preços dos cereais na África Ocidental subiram 33-37%, com aumentos de 62% na Nigéria e Serra Leoa ou de 48% no Togo.
O aumento dos custos de transporte também se refletiu no preço dos alimentos, “já que os custos de transporte representam uma média de 15-20% do custo total dos alimentos na região”, alertou a CEDEAO.
A organização realçou ainda que a nível macroeconómico, a dívida aumentou em 2020 na região, principalmente devido a despesas ligadas aos efeitos da pandemia de covid-19, “o que provocou um défice de rendimentos, uma diminuição da base tributável por contração e queda nas importações e exportações”.
Em abril passado, a Oxfam, juntamente com outras dez organizações não-governamentais internacionais, alertou que a região da África Ocidental está a atravessar a pior crise alimentar em dez anos, com 27 milhões de pessoas a passar fome.