Espanha pode estar a viver a sua pior seca e torra com o calor

O país vizinho está ter o quarto ano mais seco desde 1961 e a água armazenada está a 40% do seu total. Nas horas mais quentes, as aldeias e cidades ficam praticamente vazias de gente. O governo português garante que “até ao momento, Espanha cumpriu” com o envio “dos caudais previsto na Convenção de Albufeira”.

Na memória de muitos espanhóis ainda está bem viva a grande seca que o país sofreu entre 1991 e 1995. Foi mesmo considerada a maior seca do século XX. A redução dos recursos hídricos chegou a mais de 80% abaixo da capacidade total. Várias colheitas foram perdidas e cerca de 12 milhões de pessoas sofreram restrições ao consumo de água. A seca extrema voltou a atingir Espanha este ano e há já quem a considere pior que a vivida nos anos 90.

Um Inverno e uma Primavera com pouca chuva causaram uma redução das reservas de água para 40% do seu total nesta semana. Níveis muito baixos para um país que tem milhares de hectares de culturas de estufa ou intensiva a céu aberto e que, devido às altas temperaturas, precisam cada vez de mais água. Já há culturas que usam água pública que estão proibidas de serem produzidas e a área de cultivo regável reduzida.

A pior situação está a ser vivida na Estremadura espanhola, aquela onde existe o maior número de áreas de cultivo intensivo e onde o calor é mais forte. Uma região atravessada pelo Guadiana que faz chegar água a Portugal. Mas os outros rios ibéricos, como o Tejo e o Douro, também estão em crise. E se Espanha tem pouca água, pode chegar a um momento em não pode cumprir na sua totalidade do envio de caudais mínimos acordados com Portugal. O Governo luso diz que, até ao momento, o país ainda não sofreu consequências graves.

“Situação absolutamente dramática”
Santiago Martín Barajas, membro dos Ecologistas em Acção, uma das maiores agências de defesa do ambiente em Espanha, traça um retrato negro da situação hídrica no país, que é, aliás, confirmada pelos números oficiais de instituições governamentais.

“Neste momento, a situação em Espanha é absolutamente dramática. Em todas as albufeiras e rios, há menos de metade da água do que havia há um ano. Esta é já, sem dúvida, a pior situação da última década e uma das piores de sempre.”

Barajas cita os últimos números do Boletim Hidrológico no ministério espanhol para a Transição Ecológica, divulgados dia 12 e confirmados pelo PÚBLICO, que revelam que as reservas de água em Espanha “estavam a 44,4% da sua capacidade, ou seja 25 pontos percentuais abaixo da média dos últimos dez anos (66,1%)”.

Porém, quando se olha para a água para o consumo humano e para a agricultura, os valores baixam para os 40,9% da capacidade total de armazenamento, que é de 38.702 hectómetros cúbicos (hm3) e actualmente têm apenas 15.823 hm3. Há um ano, o total era de 19.292hm3. Há cinco anos, a média estava a 54% do total da capacidade e na de dez anos estava a 61,2% (a média a dez anos é calculada de acordo com a capacidade actual dos reservatórios).

Pior situação no Guadiana

Das 16 áreas de reservas de água para consumo humano e agricultura existentes na Espanha continental, dez tem a sua capacidade acima dos 50%, entre as quais se encontra a do Douro, que tem uma capacidade de reserva de 2.815 hm3 e tem actualmente 1,757 hm3 (62,4%) do total. No ano passado, a reserva foi em média 5.515 hm3 e a média a dez anos foi 5.583 hm3.

Mas quando se olha para as que têm a sua capacidade abaixo dos 50% encontra-se duas importantes bacias hidrográficas cujos rios correm para o nosso país.

O Tejo, a terceira maior reserva em Espanha, tem uma capacidade de reserva de 5.788 hm3 e tem actualmente 2.385 (40,7%). No ano passado, a média foi de 5.804 hm3 e a média a dez anos foi de 6.666 hm3.

A outra é a do Guadiana. Tem uma capacidade de reserva de 9.484 hm3 e tem actualmente 2.663 (28%). No ano passado, a média foi de 3.359 e a dez anos foi 5.610. O Guadiana só é batido pelo de Guadalquivir, na Andaluzia, cuja capacidade está 27%% do total.

“Sei que a situação hídrica em Portugal também não é boa, sei que a situação de seca se alarga cada vez mais, mas é bom que estejam preparados para este Verão receberem muito menos água de Espanha, até porque o país não pode dar o que não tem. A situação em Espanha é terrível”, diz Santiago Martín Barajas.

O activista dos Ecologistas em Acção afirma não ter a “menor dúvida” que a seca no seu país “terá consequências em Portugal”: “Podem vir a ter alguma falta de água para os mais variados consumos, especialmente nos locais que não se abastecem no Alqueva. E é na agricultura que essa eventual falta de água se poderá sentir de forma mais dura.”

Segundo agência espanhola e meteorologia, em Junho, o país vivia o terceiro ano mais seco do século XXI e o quarto mais seco desde 1961. Nos primeiros nove meses do ano hidrológico (1 de Outubro a 30 de Junho), a quantidade de chuva esteve 25% abaixo do considerado normal.

Barajas recusa a ideia que a pouca chuva “seja a principal culpada” pela seca do país. “A falta de chuva […]

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