Os incendiários não podem ser tema apenas no verão – Mauro Paulino

Depois dos recentes incêndios da última semana e de um extenso trabalho da Polícia Judiciária sobre o perfil dos incendiários, ao longo dos anos, o psicólogo clínico e forense Mauro Paulino aborda as características psicológicas e sociais do incendiário, as quais não podem ser uma preocupação circunscrita aos meses de verão.

Na passada sexta-feira, Hugo Franco e Rui Gustavo trouxeram à luz um importante exclusivo intitulado “A Polícia Judiciária tem o perfil de 700 incendiários nas suas mãos. Um deles foi agora detido em Leiria por atear um fogo”. Numa clara manifestação de que apenas pelo conhecimento se poderá evitar a criminalidade, esta base de dados da Polícia Judiciária permite perceber que tipo de incendiários existe no nosso país e vigiar reincidências.

O fogo posto é das maiores fontes de danos materiais, ferimentos e morte nos países ocidentais. A classificação das causas de ignição faz-se, por norma, em quatro categorias: (1) naturais (correspondem aos incêndios cuja ignição resulta das descargas elétricas provocadas pelas trovoadas); (2) negligentes (associadas a acidentes e a comportamento negligente, ou seja, uso do fogo na agricultura, ignições decorrentes de brincadeiras de crianças, de queima de lixos e do lançamento de foguetes e de cigarros e ainda de linhas elétricas, caminhos-de-ferro); (3) intencionais (estão relacionadas com o uso doloso do fogo, em que por detrás de cada ignição existe normalmente uma motivação para o ato); e (4) desconhecidas (podem resultar da falta de investigação ou da impossibilidade da determinação da causa, mesmo com a identificação do ponto de inicio, por falta de provas materiais e/ou pessoais, que permitam ao investigador despistar a causa da ignição).

No nosso país, o processo de investigação dos incêndios florestais baseia-se no método das evidências físicas, o qual consiste na avaliação dos padrões de comportamento do fogo e outros indicadores conducentes à determinação do ponto de início. Uma vez determinado este ponto é feita a leitura dos indicadores e estabelecida a relação entre o quadro de evidências físicas no local e o meio de ignição. Uma vez estabelecidos os quadros de indicadores, quer físicos quer pessoais, a informação é analisada e enquadrada numa das categorias de classificação das causas (naturais, negligentes, intencionais e desconhecidas).

Uma análise ao Relatório Anual de Segurança Interna de 2021 permite verificar um pico de casos de incêndio no ano de 2017 (mais de 11 mil), tendência que veio a decrescer desde então até 2021 e para a qual poderá não ter sido indiferente as restrições de circulação inerentes à pandemia nos dois últimos anos.

No contexto da prevenção dos incêndios florestais, o conhecimento das causas dos incêndios tem como objetivo produzir informação sobre o local (onde?), altura do dia (quando?), o método ou fonte de ignição (como?) e o […]

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