Os Estados Unidos saudaram hoje o acordo entre Rússia e Ucrânia, que será assinado em Istambul na sexta-feira, para permitir as exportações de cereais bloqueados nos portos ucranianos e instaram Moscovo a implementá-lo.
O porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, salientou que, para Washington, o importante agora é “responsabilizar a Rússia pela implementação deste acordo e permitir que os cereais ucranianos cheguem aos mercados mundiais”.
“Nós nunca deveríamos estar nesta situação para começar. Foi uma decisão deliberada da Rússia de usar comida como arma”, sublinhou, citado pela agência France-Presse (AFP).
Ned Price aplaudiu particularmente os esforços diplomáticos do secretário-geral da ONU, António Guterres, e da Turquia, que muitas vezes esteve em desacordo com os Estados Unidos nos últimos anos sobre a questão da Síria e a compra de armas para a Rússia.
O acordo para permitir as exportações de cereais bloqueados nos portos ucranianos vai ser assinado na sexta-feira em Istambul, anunciou hoje a presidência turca em comunicado.
“A cerimónia de assinatura do acordo do envio de cereais, na qual estarão presentes o Presidente [turco] Recep Tayyip Erdogan e o secretário-geral da ONU, António Guterres, será assinado amanhã às 16:30 no Palácio Dolmabahçe, com a participação da Ucrânia e Rússia”, assinala o texto.
O porta-voz da diplomacia norte-americana indicou ainda que Washington foi mantida informada sobre os detalhes do acordo.
Istambul foi palco na semana passada de uma reunião de peritos militares da Rússia, Ucrânia e Turquia e de representantes da ONU para tentar desbloquear a exportação dos cereais russos e ucranianos retidos devido à guerra na Ucrânia e evitar uma crise alimentar global.
Os preços dos alimentos dispararam em todo o mundo, afetando principalmente os países mais pobres, desde a invasão russa da Ucrânia, um grande exportador de grãos.
O acordo negociado há mais de dois meses visa transportar pelo mar Negro cerca de 20 milhões de toneladas de grãos empilhados em silos ucranianos, principalmente em Odessa (sul) e facilitar para a Rússia as exportações de cereais e fertilizantes.
O anúncio deste acordo surge um dia depois do chefe da diplomacia russa ter afirmado que insistiu junto da ONU para que a organização alcançasse um acordo que facilite as exportações agrícolas da Rússia, afetadas pelas sanções ocidentais, em troca da passagem dos cereais ucranianos bloqueados devido à guerra.
Antes, o Presidente russo, Vladimir Putin, já tinha feito um pedido similar.
Em conjunto, segundo a revista britânica The Economist, a Ucrânia e a Rússia fornecem 28% do trigo consumido no mundo, 29% da cevada, 15% do milho e 75% do óleo de girassol.
As exportações de cereais e de fertilizantes russos têm sido afetadas pelas sanções impostas pelo Ocidente sobre as cadeias logísticas e financeiras russas.
A Rússia é um exportador chave de fertilizantes. Em 2021, o país foi o principal exportador mundial de fertilizantes nitrogenados e o segundo fornecedor de fertilizantes potássicos e fosforados.