Odemira e o Plano Sectorial do Mira – Paul Dólleman

Fez agora duas semanas que o Programa Sectorial do Mira foi assinado pelos Ministros da Agricultura e do Ambiente. Na minha opinião um evento único em Portugal, com dois Ministérios a colaborar conjuntamente em Odemira e com os operadores locais a receberem um conjunto de regras operativas claras.

A Agricultura e o Ambiente transmitem a ideia de por vezes operarem de forma antagónica, mas na realidade, uma não consegue sobreviver sem a outra. A palavra sustentabilidade é agora o chavão utilizado, que neste contexto descreve a necessidade de existir um equilíbrio perfeito entre ambiente, economia e sociedade.

Os Parque Naturais tendem a ter vastas áreas para gerir e manter, mas que ao mesmo tempo são habitadas, e exploradas. A agricultura deve ter um papel fundamental em áreas de Parque Natural, porque ajuda a manter os solos e oferece emprego às pessoas que lá habitam.

A Agricultura deveria ser vistas como guardiã da Natureza e não como inimiga.

A Agricultura Biológica é uma solução que para a região de Odemira não é viável. A região tem um micro clima apropriado para produzir durante o Inverno, mas tem índices de pluviosidade elevadas e solos arenosos demasiados pobres para este método de produção. A solução é operar de uma forma responsável para com o meio ambiente. Isto significa operar de acordo com o sistema de protecção integrada e boas práticas agrícolas, tirando o máximo proveito.

Por forma a minimizar o stress nas culturas existem uma série de condições edafoclimáticas essências, entre elas;

 1. Uma drenagem dos solos correcta. Este é um dos grandes problemas da região de Odemira, e que é altamente prejudicial para o meio ambiente. Este aspecto foi restringido no Plano Sectorial do Mira e no meu entender contraproducente.

2. Utilização de fitofármacos modernos. De momento a legislação Portuguesa limita a utilização de fitofármacos com formulações amigas do ambiente e que usadas de forma alternada conferem maior e melhor protecção às culturas. A lista aprovada pela DGPC está cheia de rótulos nocivos ao meio ambiente, e muitas vezes já não muito eficazes devido às resistências que foram criando com o passar dos anos. Um abanão no processo de homologações Português iria trazer sérios benefícios ao meio ambiente e aumentar a competitividade das exportações Portuguesas.

A maior parte das regras estabelecidas pelo Plano Sectorial do Mira já tinham sido anteriormente reforçadas pelos esquemas de certificação ambiental estrangeiros, implementadas por muitas das empresas modernas e exportadoras, impostas pelos seus clientes Norte Europeus.

Eu sinto que existe aqui uma enorme oportunidade através do Plano Sectorial do Mira de criar um esquema de certificação ambiental, local, que possa ser utilizado como projecto piloto e que sirva de referência para outras áreas em Portugal. Este esquema iria beneficiar os produtores locais, podendo assim usufruir de um selo de qualidade a ser utilizado como veículo de marketing, ajudando a criar valor acrescentado aos produtos hortícolas produzidos na região.

No fim de contas o mercado é extremamente competitivo e não é só o preço final que conta. O consumidor está a exigir cada vez mais, produtos com responsabilidades ambientais. Os nossos produtos são de uma qualidade excelente e têm vantagens competitivas que os produtos dos nossos concorrentes, como no caso do sul de Espanha não têm.

O Plano Sectorial do Mira já foi assinado e como tal, chegou a vez dos operadores locais criarem a diferença.

Paul Dólleman
Presidente da Associação de Horticultores do Sudoeste Alentejano
Director de Produção da Vitacress Portugal


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