Dwight Eisenhower disse : “A agricultura parece muito fácil quando a charrua é um lápis e se está a muitos quilómetros dos campos”.
Afirmação inteligente esta. Porque provém de um homem que, antes de ser político, conheceu, com o seu trabalho, no terreno difícil da II Guerra Mundial, a diferença entre saber e não saber do que se fala. O mesmo parece não acontecer com a equipa ministerial que hoje temos. Completamente fora do contexto prático do que é a agricultura portuguesa e a sua especificidade, os que ditam o caminho da política agrícola nacional, entraram a matar. Das poucas vezes que receberam os experientes agricultores fizeram ouvidos moucos. E só levaram em conta o pedido de alguns que nunca defenderam o sector agrícola mas os interesses próprios.
Começaram ao ataque, e os media em nada nos ajudaram, uma vez que cai bem dizer mal da agricultura. Apelidaram-nos de incompetentes, publicaram as ajudas recebidas pelos agricultores como se de criminosos se tratassem e, quando sem argumentos, classificaram-nos de extrema esquerda ou da direita conservadora. Tudo isto resultado, também, de nunca terem olhado para as estatísticas que o próprio Ministério da Agricultura publicou em “Portugal Agrícola 2006”.
Por isso, pelas afirmações que fazem, parecem não conhecer os números que apresentei em artigo anterior, aos quais junto o do aumento das produtividades conseguido, nos últimos 20 anos, no arroz e no tomate de 35% e 198%, respectivamente.
Fomos acusados de sermos um peso para o resto da sociedade, alegando que esta suporta as contribuições para a Política Agrícola Comum (PAC). Mas não explicaram que cada cidadão português, incluindo o agricultor, contribui para a PAC com, mais ou menos, 14 cêntimos por dia. Como não contaram que os agricultores investiram, nos últimos 20 anos, em média, e aos preços de hoje, 1 647 milhões de euros por ano, o que, convertido por habitante e por dia, corresponde a 40 cêntimos. Assim, os agricultores retribuíram à Sociedade (incluindo eles próprios) em quase 3 vezes o que todos entregámos para a PAC. Não se diz, porque não convém dizer. Como não convém dizer que só o Alentejo e o Ribatejo, regiões alvo de grandes ataques, contribuíram para 50% deste investimento.
E, também não é conveniente referir que a agricultura tem uma contribuição, directa e indirecta, para o emprego no nosso País que de forma alguma pode ser desprezada, sendo, mais uma vez naquelas províncias, o sector que mais população activa emprega.
Também não deu jeito nenhum dizer que os agricultores do nosso país aderiram a novas culturas (veja-se o caso da beterraba, do milho e do arroz), a novas técnicas de produção como o regadio e consequente utilização mais racional da água, e a sistemas como a agricultura de conservação (sementeira directa e mobilização na zona) que combatem eficazmente a erosão, melhoram a fertilidade do solo, sequestram o CO2 da atmosfera e protegem a biodiversidade.
E ninguém parece saber que, para receber as tão criticadas ajudas (criadas para compensar a redução de 80% em termos reais do preços dos produtos agrícolas), nos adaptámos, como nenhum outro sector, e sempre dentro dos prazos, às inúmeras exigências da União Europeia. Ser agricultor hoje em dia passa por conseguir uma enorme habilidade na leitura da pesada legislação e significa ter um satélite apontado, que controla e regista todos os nossos movimentos no campo.
Mas o que não convém mesmo dizer é que o Ministério implementou o PRODER com quase 2 anos de atraso e que, quando o fez, a balbúrdia foi total. Primeiro, anunciou-se a disponibilização de 60 milhões de euros com o intuito de escandalizar, como se de uma exorbitância se tratasse. Não é. Corresponde, apenas, a 10% do que cabia destinar nesta fase. Segundo, os call centers começaram por informar que os técnicos estavam em formação, não havendo ninguém para esclarecer dúvidas e, terceiro, depois de formados, os técnicos não conseguiram responder à maioria do que se lhes perguntava.
Como diz o provérbio “antes de mandar arrumar a casa dos outros mais vale arrumar primeiro a própria”.
De facto, não foi e não é sério atacar o sector agrícola, porque, qualquer que seja a inclinação partidária, os agricultores portugueses já demonstraram que sabem usar o lápis e a “charrua” e que só eles conhecem os campos porque, neles, trabalham, muitos deles, desde sempre.
Maria Gabriela Cruz
Agricultora – Dirigente Associativa