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Colmeias: “De um lado o diabo a queimar, do outro os santos a proteger”

No espaço de poucas horas, cerca de três mil hectares transformaram-se em cinzas, na freguesia de Colmeias e Memória, em Leiria. Duas casas foram consumidas pelo fogo. Artur Santos, o presidente da junta, denuncia a falta de limpeza de terrenos. Já Duarte Ascensão, que faz trabalhos de manutenção florestal, queixa-se de ameaças de proprietários. Numa vasta mancha negra, um olival limpo sobreviveu.

Este é o segundo de quatro capítulos do especial “No meio das cinzas”, sobre os incêndios que fustigaram o distrito de Leiria, entre 7 e 18 de julho.

Nas costas de Artur Santos, o chão ainda fumega. Um tronco no meio de um eucaliptal, à distância de uns 20 metros, é roído pelas brasas. O presidente da Junta de Freguesia de Colmeias e Memória, concelho de Leiria, olha para trás, ajeita o chapéu de palha na cabeça, e constata: o risco de um novo incêndio não desapareceu.

Foi apenas há uma semana que as chamas varreram 60% da área da freguesia, com cerca de três mil hectares de mancha florestal a transformarem-se em cinzas no espaço de poucas horas; duas casas de primeira habitação arderam, assim como alguns anexos e veículos.

“Tenho a sensação que andava o diabo de um lado a tentar queimar-nos e andavam os santos de outro lado a tentar proteger-nos. E no fundo acho que os santos e os anjos protegeram-nos”, diz à Renascença.

Os estragos não terem sido maiores foi uma sorte. O território da freguesia, 47 povoações distribuídas por 46 quilómetros quadrados, alberga 42 pecuárias e quatro aviários de grande dimensão. “Tudo praticamente inserido em zonas florestais. Não temos propriamente um aglomerado urbano.”

Entre 7 e 18 de julho, com algumas das temperaturas mais altas de que há registo e o país em situação de contingência, as chamas consumiram perto de 43 mil hectares em Portugal. Cerca de 30% (12.500 hectares) sumiram-se em Leiria, o distrito mais afetado e que, recorde-se, em 2017 foi assolado pela tragédia de Pedrógão Grande, em que 66 pessoas perderam a vida.

Além de uma referência às temperaturas “excecionais”, Artur não encontra explicações para o fenómeno dos incêndios a nível nacional. No entanto, na localidade que lidera desde 2013, aponta um velho problema: a falta de limpeza dos terrenos.

“Tenho muita gente que me costuma acusar de ser ditador. E eu costumo dizer que as leis são para cumprir. Portanto, não é uma questão de ditadura. A lei existe para o rico e para o pobre e tem de ser cumprida.”

Por lei, é obrigatória a limpeza dos terrenos, assim como a criação de uma faixa de segurança de 50 metros nas proximidades de aglomerados até nove habitações, e […]

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