O ministro da Agricultura, Jaime Silva, tem-se desdobrado em entrevistas à comunicação social. Um facto a que não será alheia a proximidade das eleições e a consequente necessidade de fazer o balanço do mandato.
Quem lê as suas declarações percebe que é um ministro contente com o trabalho feito e que deixa antever a disponibilidade para ficar mais quatro anos à frente da tutela, isto se o partido Socialista continuar no Governo.
Sobre Jaime Silva muito se escreveu e já não merece a pena voltar a repisar todas as (más) opções que tomou. Seguramente ficará para a história como o ‘Má Memória’. Parece-me o cognome mais adequado, mas sobre o passado ficamos por aqui.
Acontece que o ministro continua a brindar os agricultores com declarações chocantes, que confirmam a sua insensibilidade agrícola e falta de noção da realidade. Não sabemos de que agricultura falará mas:
Numa altura em que a depressão nos preços na produção é real, desde os cereais passando pelo leite, e que a situação económica se degrada, Jaime Silva diz que a ‘agricultura ainda não sentiu a crise’.
Numa fase em que milhares de euros em apoios comunitários ao investimento continuam por pagar e que muitas ajudas directas estão suspensas devido a atrasos nos controlos ao RPU, Jaime Silva diz que ‘politicamente é extremamente difícil atacar a agricultura’.
Quando problemas como a desertificação do interior do país, a erosão de solos e a preservação ambiental estão na ordem do dia, Jaime Silva diz que ‘ajudas para os agricultores manterem a paisagem é deitar dinheiro à rua ‘ e é por acreditar nisso que as suspendeu.
Isto é de um apurado sentido de humor, negro. Só que os agricultores dispensam piadas. O ministro congratula-se porque mudou o paradigma da agricultura portuguesa. Tem razão, mudou mesmo. Porque até aqui, a agricultura tinha ministros que, gostando-se mais ou menos da sua política, a defendiam. A partir de agora o sector sabe que tem de viver por si próprio, sem estratégia, sem apoios atempados, sem solidariedade ministerial. Já viveu assim quatro anos e, com algum azar, prepara-se para viver mais quatro. É o novo paradigma. Salve-se quem puder.
Isabel Martins
Directora
Revista Vida Rural