É o Grão de Bico uma cultura importante para Portugal? – António Toureiro

O Grão de Bico é tradicionalmente uma cultura utilizada em Portugal, como cultura de primavera, possuindo baixo porte, sendo a colheita manual e com baixa produção devido ao stress hídrico no final do ciclo produtivo. Situação que não sendo sustentável, levou à diminuição drástica das áreas cultivadas.

Devido à obtenção de variedades tolerantes ao fungo Ascochyta rabiei e possuindo porte mais alto, possibilitando a colheita mecânica e apresentando maiores produções. O grão de bico como leguminosa, é uma cultura que como tradicionalmente se apresenta vantajosa e sustentável nas rotações com cereais.

Apresenta-se na Figura 1 (em 3 gráficos), alguns indicadores referentes às superfícies ocupadas com a produção de Grão de Bico e respectiva produção para os anos de 1999 e 2010, permitindo comparar a evolução, assim como se compara o peso do Alentejo relativamente a Portugal a nível desta cultura.

Verifica-se que a Região Alentejo em 2010 é responsável por 70% da superfície desta cultura em Portugal e por 60% da produção. As quantidades de entradas são muito superiores às saídas, o grau de auto-aprovisionamento de Grão de Bico para Portugal, em dez anos, desceu praticamente para metade, sendo deste modo a balança comercial muito desfavorável.

Houve uma redução a nível de Portugal, quer da superfície quer da produção, representando em 2010 a superfície 55% da mesma verificada em 1999 e a produção em 2010 de 63% da verificada no ano de 1999.

Com base no Projeto SWUP-MED (Sustainable water use securing food production in dry areas of the Mediterranean region), estudou-se durante três anos a adaptação de quatro genótipos de grão de bico na Unidade de Recursos Genéticos, Ecofisiologia e Melhoramento de Plantas (URGEMP) em Elvas. Sendo duas variedades já existentes no Catálogo Nacional, o Elixir e o Eldorado, e dois genótipos em estudo, o ICL588 e o FLIPO3-46C, apresentando-se as produções obtidas no Gráfico 1, para quatro regimes hídricos diferentes, apresentados nos gráficos termopluviométricos da Figura 2: 1) sem rega (rainfad); 2) até 25% das necessidades hídricas da planta (CWR) (Ensaio de Rega – ER 25%); 3) até 25% de CWR coberto (para verificar a influência de um aumento da temperatura) (ER 25%C); 4) até 100% de CWR (ER 100%).

A nível das produções, verifica-se neste ano (2011) que o ILC588 é o que mais produz nas 4 situações, o FLIPO3-46C é o que menos produz e o Elixir só não produz mais que o Eldorado na situação para 100% das necessidades hídricas da planta.

No tratamento em que se colocou cobertura para aumentar a temperatura, prolongou o período reprodutivo (Gráfico 2) mas com elevado abortamento das flores, originando uma reduzida produção (Gráfico 1), revelando assim uma inadaptação das plantas a esta situação.

O ILC588 apresenta-se como o mais precoce, iniciando a floração (BF) mais cedo que os restantes genótipos (gráfico 2), apresentando uma altura produtiva (diferença entre a altura máxima da planta e a altura da 1ª vagem, que corresponde à altura em que a planta possui vagens) que no ILC 588 é ligeiramente menor que os outros genótipos, porque terá mais ramificações apicais (gráfico 3), apresentando por isso um índice de colheita bom (gráfico 4).

No tratamento em que se regou até 100% das necessidades hídricas das plantas, conduziu a um maior desenvolvimento vegetativo, as plantas apresentam maior altura produtiva, mas menor índice de colheita em relação aos tratamentos sem rega e ao tratamento com rega até 25% das necessidades hídricas das plantas

O FLIPO3-046C apresenta produção e altura que, como os restantes, são característica importante para a mecanização, apresentando também bom índice de colheita, assim como o ILC588, são dois genótipo com interesse a candidatar ao Catálogo Nacional de Variedades.

Respondendo à pergunta inicial “É o Grão de Bico uma cultura importante para Portugal?” Verificamos, que o Grão de Bico não é só uma cultura importante para Portugal, mas essencial, reduzindo a nossa dependência de importações, melhorando o auto-aprovisionamento e é uma cultura que como leguminosa e proteaginosa é essencial nas rotações de culturas anuais, especialmente com os cereais, sendo também uma cultura totalmente mecanizada.

Toureiro, A1.; Simões, N1.; Maçãs, I1.; Leopoldo. L3.; Costa, M2.; Pinheiro, C2.; Lourenço, E3.; Chaves, M2.
1 – Unidade de Recursos Genéticos, Ecofisiologia e Melhoramento de Plantas (INIA-Elvas)
2 – Instituto de Tecnologia Química e Biológica – Universidade Nova de Lisboa
3 – Universidade de Évora


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