“Tamos Amanhados…”: A Sra. Ministra da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território, o “Ar Cool”, as Gravatas e……Nós – Ricardo Freixial

Quando na passada Sexta-Feira vi de um dos Salões do antigo Ministério da Agricultura, a Sra. Ministra da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território, anunciar que a partir desse dia, os funcionários do Ministério da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território (MAMAOT) , estariam dispensados de usar gravata, uma vez que os aparelhos de ar condicionado iriam estar regulados para os 25ºC, disse para comigo – “Tamos amanhados…“.

De facto, neste período difícil e conturbado, não poderia ter havido nada de mais importante que nos pudesse ter sido transmitido nestas áreas, do que a imagem da Sra. Ministra do MAMAOT mais toda a sua equipa de Secretários de Estado e Assessores, qual Selecção de sub-23 de uma qualquer modalidade desportiva (a equipa ao que parece é nova e transversal no seu “jeito”…), interrompendo o seu exaustivo estudo dos “dossiers” para dar desta forma conhecimento da iniciativa denominada “Ar Cool”…

Eu, que já há muito só uso gravata nas reuniões “mais formais” e que também tenho como prioridade, para além de outras coisas, a Eficiência Energética e reduzir a pegada ecológica, apostando ainda na economia de baixo carbono e tendo até adoptado há algum tempo outras medidas de sustentabilidade energética e ambiental, para além do uso preferencial de meios electrónicos para as comunicações, o uso preferencial de sistemas de videoconferência e a indicação para os equipamentos electrónicos serem desligados, em vez de mantidos em stand by, corri imediatamente por entre a ruralidade do território onde vou vivendo e anunciei, a operadores de máquinas agrícolas, pastores e etc. (gente que debaixo dos trinta e tal graus de temperatura se vai ainda dedicando às diversas tarefas relacionadas com a “batalha da produção”…), que no âmbito da aplicação da importante medida da Sra. Ministra da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território, a partir de Sábado e sempre a que a temperatura atingisse e se mantivesse nos 25º C, estariam dispensados de usar gravata…

… Ora aí está uma medida que será muito importante para a Sra. Ministra, lá para os gabinetes, talvez também para o Mar, mas que a nós, não nos aquece nem arrefece … responderam-me eles. “Não estamos nos edifícios do Ministério e estando no campo e não sendo das “estufas”, não conseguimos regular a temperatura para os 25º C nem sequer com o ar condicionado…não perturbamos por isso o ambiente pelo uso de aparelhos de ar condicionado que não utilizamos… tal como agora os Secretários de Estado e todos os funcionários, também nós já usamos desde sempre, uma indumentária informal baseada essencialmente no fato de macaco que permitindo conforto, não condiz assim muito com o uso da gravata, e no nosso “território” a temperatura nas horas de trabalho só muito raramente atinge e se mantém nos 25º C entre 1 de Junho e 30 de Setembro…”

Não entenderam estes homens bons na sua nobre ruralidade, e também por isso desejosos de medidas tendentes à melhoria da qualidade de vida no Mundo Rural, que eu lhes pretendia dar a “boa nova” do privilégio que será, podermos contar a partir de agora, com uma Sra. Ministra mais toda a sua equipa de Secretários de Estado e Assessores que para além de ser capaz nesta fase, de lançar desta forma a iniciativa denominada “Ar Cool”, será também seguramente competente para entender que:

A agricultura é uma actividade através da qual é possível aumentar a produção nacional e contribuir para um maior grau de auto-suficiência alimentar diminuindo o nosso défice com o exterior nesta área;

Embora a produção de alimentos tenha sido apontada como uma actividade responsável por uma quantidade significativa dos gases com efeito de estufa emitidos para a atmosfera, existem formas que garantem a segurança alimentar tendo em conta as eventuais alterações climáticas;

Que é possível fazer agricultura procurando manter ou melhorar a fertilidade do solo e preservando o ambiente de forma que as gerações futuras possam obter produtividades iguais ou superiores às que se obtinham no modo convencional, melhorando a sua qualidade de vida;

A sustentabilidade agronómica, ambiental e económica desta forma de fazer agricultura permite não só assegurar de forma sustentada os alimentos necessários para uma população mundial crescente e com hábitos alimentares cada vez mais exigentes, como ainda assegurar impactos territoriais, ambientais, económicos e sociais relevantes;

De facto, a agricultura não é uma actividade através da qual apenas se obtêm alimentos. A actividade agrícola, é também importante ao nível da ocupação e ordenamento do território;

O Mundo Rural representa cerca de 85% do território nacional e a actividade agrícola é extremamente importante para a ocupação e ordenamento equilibrado desse mesmo território;

A agricultura pode ser uma actividade ambientalmente sustentável, geradora de bens públicos de interesse para a comunidade;

A agricultura é fundamental para os outros sectores económicos sobretudo ao nível das economias rurais nas quais, a agricultura dinamiza indústrias ou serviços, a montante e a jusante da actividade produtiva propriamente dita. Em zonas nas quais a taxa de desemprego e os riscos de desertificação são elevados, a agricultura é portanto uma actividade a apoiar, que contribuirá para a ocupação e para a retenção da população, eventualmente para a atracção de outra, e para a reanimação do Mundo Rural;

A agricultura e a natureza exercem uma profunda influência mútua tendo a agricultura contribuído ao longo dos séculos para criar e manter uma grande biodiversidade. Em determinados contextos a agricultura é protegida e preservada não só em função do valor económico da produção de alimentos mas também por motivos de natureza cultural ou simplesmente pelas amenidades que assegura;

A UE através das reformas da PAC, possui incentivos aos agricultores para fornecerem serviços ambientais, disponibilizando aos Estados-Membros montantes que devem ser obrigatoriamente utilizados (ex: os regimes agro-ambientais, etc.) e que se podem constituir como instrumentos acessórios fundamentais na obtenção dos objectivos referidos.

Tenho quase a certeza que a Sra. Ministra do MAMAOT mais toda a sua equipa de Secretários de Estado e Assessores, possuem conhecimentos e sensibilidade suficientes para entender tudo isto e também que o País, a Agricultura, o Mar, o Ordenamento do Território e também o Ambiente, carecem urgentemente de medidas estruturantes que vão muito para além do “Ar Cool” e das gravatas…..Assim, mesmo sem saber qual a peça de roupa ou acessório que as funcionárias do MAMAOT estão dispensadas de utilizar quando a temperatura por lá rondar os 25º C, a avaliar por esta medida, acredito que os referidos sectores, só poderão ter finalmente melhores dias, pois a Sra. Ministra do MAMAOT mais toda a sua equipa de Secretários de Estado e Assessores lançarão seguramente, após o anunciado exaustivo estudo e entendimento dos “dossiers”, sem gravata e debaixo do desconforto que representam os 25ºC (ar condicionado…) dos gabinetes do Ministério, toda uma série de outras medidas, também elas favoráveis para o desenvolvimento da Agricultura, para o Mar, Ambiente e Ordenamento do Território. Quanto à medida cujo objectivo é “minimizar o impacto ambiental associado ao consumo de energia eléctrica na Administração Pública, tendo em conta as medidas de contenção de despesas”, deixo aqui uma anedota que se conta desde o tempo de Salazar, naqueles tempos nos quais se ensinava a poupar:

” Senhor Presidente, hoje não apanhei o eléctrico; vim a correr atrás dele e poupei oito tostões” – disse o funcionário público, um contínuo, a querer agradar a Oliveira Salazar.

Respondeu Salazar de imediato: “Fez bem, mas se passar a vir atrás de um táxi será melhor, porque poupará vinte escudos e chegará mais cedo”.

Cada um pode interpretar o meu “escrito”, a medida da Sra. Ministra do MAMAOT, e também esta anedota, como quiser….

Ricardo Freixial,
agricultor, trinta e tal graus à sombra e…todo esgargalado

“Chapéus há muitos seu palerma…” – Ricardo Freixial


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