Em minha opinião, e fazendo um comentário geral do artigo, penso tratar-se de um artigo bastante interessante porque dá uma visão dos pontos fortes da agricultura portuguesa, o que leva à desmitificação que a sociedade em geral tem de que não somos competitivos em nada. E, por outro lado, mostra quais os pontos fracos do nosso sector agrícola, apresentando quais as principais razões que levam a que esses sejam os pontos fracos, relacionando e enquadrando o sector agrícola português na Europa e mais particularmente na PAC.
Penso que o grande lapso deste artigo é esquecer o sector da cortiça. Do meu ponto de vista é impossível fazer uma análise da agricultura portuguesa sem dedicar um parágrafo a este sector, uma vez que, o nosso país concentra cerca de 1/3 da área de sobro a nível mundial (23% da floresta nacional), produz metade da cortiça do mundo e, como se isso não bastasse, é o maior exportador do globo, representado a exportação da cortiça 808 milhões de euros (valores de 2005). Mas até se admitia este lapso caso não estivesse o sector da cortiça a atravessar uma das piores etapas da sua história e sendo, hoje mais que nunca, necessário adoptar medidas para que o nosso produto mais reconhecido internacionalmente (penso que não é exagero) não caía no esquecimento e seja substituído por vedantes sintéticos.
Em relação aos pontos fortes há algumas questões que penso que estão um pouco “escondidas” e que, não tirando mérito a nenhum dos sectores, considero que são importantes de ter em conta:
(1) É verdade que o sector leiteiro se tem adaptado bastante bem às exigências do mercado e os produtores nacionais têm grande mérito nisso, porque o nosso clima não é seguramente o mais propício a esta exploração, mas como será o pós 2013? Como será quando deixar de haver cotas para as vacas leiteiras? Na minha opinião (e penso que é realista) também esta situação irá prejudicar os países do sul da Europa em relação aos do Norte. A questão é: e actualmente não estão a ser beneficiados os do Sul em relação aos do Norte? Se o caminho a seguir é deixar que os mercados regulem as produções, então penso que faz todo o sentido acabar com as cotas, mas sem nunca esquecer que é essencial que cada país produza um mínimo de alimentos que assegure uma certa independência do exterior.
Em relação ao abandono de dezenas de milhares de pequenos produtores, a questão não tem nada a ver com agricultura, nem com mercados, nem mesmo com economia. A questão aqui é social! Diz-se no final do artigo que a grande maioria dos agricultores tem uma idade avançada e não tem escolaridade, a minha questão é: o que vão estes pequenos produtores fazer da vida? Penso que na sociedade portuguesa há pessoas bastante mais “inúteis” (sem querer ferir a susceptibilidade de ninguém) que têm emprego garantido até aos 65 anos e uma razoável reforma assegurada.
(2) Relativamente ao sector do azeite, quando o autor diz “quando os olivais jovens entrarem em produção Portugal pode ficar perto da auto-suficiência” creio que tem toda a razão, a minha pergunta é: quando isso acontecer não se irá passar o mesmo que ocorreu com o sector leiteiro? Não irão muitos pequenos agricultores que asseguram a vida de pequenas aldeias e de grande parte da área de olival nacional abandonar a actividade? E qual a durabilidade desses olivais? Como se sabe, ainda não é conhecida a longevidade do sistema de produção superintensivo. Certo é que os olivais tradicionais que forem abandonados muito dificilmente voltarão a ser explorados.
Penso que o sector do olival tem evoluído mais rapidamente que o sector do azeite, só isso pode justificar que o preço da azeitona baixe todos os anos, ou seja, o aumento do consumo de azeite tem sido inferior ao aumento da produção. Se se confirmam as expectativas de mais aumentos da produção nacional e com a importação de azeites a preços inferiores aos nossos, como irá evoluir o preço da azeitona?
(3) Em relação às frutas e legumes, pessoalmente foi o sector que mais me surpreendeu. Nunca pensei que o nosso país fosse tão competitivo neste tipo de produções e muito menos que o volume monetário destes produtos em exportações superasse o volume do vinho. Neste sentido, os produtores de frutas e legumes estão claramente de parabéns, ainda para mais porque, como se diz no artigo, é um sector pouco apoiado pela PAC. Isto leva-nos a querer que foi precisamente esse factor, aliado às características do nosso clima que permite produzir alguns frutos tropicais e algumas hortícolas em épocas em que há pouca oferta na Europa, que possibilitou que este sector se tornasse cada vez mais competitivo em Portugal.
(4) Quanto ao sector do vinho, eu penso que há alguma falta de regulação na criação de novas marcas. Acho que é um exagero que os vinhos ocupem uma prateleira inteira de um supermercado, deixando muitas vezes os consumidores confusos, o que leva a que na maioria das vezes acabem por comprar sempre o que já conhecem ou o que está mais publicitado (outras vezes os mais baratos).
Em relação ao vinho do Porto, o autor do artigo parece que encara como uma desvantagem o facto de grande parte da nossa exportação de vinho para o estrangeiro ser à base deste vinho licoroso. Eu penso que devíamos encarar isso como uma vantagem e apostar em introduzir o vinho do Porto em países novos consumidores, usando-o como uma espécie de cartão de visita para depois tentar exportar outros vinhos.
Quanto aos pontos fracos, estou completamente de acordo com António Serrano – não temos condições de solos, nem de clima para ser competitivos na produção de cereais. Se assim é, creio que, à semelhança do que disse no caso do sector do leite, se deve definir uma produção nacional mínima que nos assegure alguma estabilidade em relação à necessidade de importação, nem que para isso seja necessário canalizar apoios a nível nacional, já que os cereais constituem a base da alimentação Humana e Animal e não nos podemos dar ao luxo de ficar completamente dependentes do exterior. Ou seja, nos sectores onde não somos competitivos e para os quais não temos possibilidade de vir a ser, por razões ambientais ou de solo, se esses sectores fazem parte da base da alimentação (cereais, batata, arroz, carne e leite) penso que terão de ser apoiados internamente (já que em alguns casos não o são pela PAC) para assegurar uma reserva alimentar estratégica que nos permita não estarmos completamente dependentes do exterior.
Relativamente ao factor Humano ser uma das maiores limitações da nossa agricultura, penso que isso é apenas uma das muitas consequências que advêm de termos um país cada vez mais envelhecido e sobretudo no meio rural, daí eu achar que também os pequenos agricultores são necessários para manterem o meio rural “com vida”, sendo os seus filhos sempre mais sensíveis para estas questões e podendo ser potenciais agricultores jovens e esclarecidos.
Sérgio Lavado
Aluno do mestrado em Eng. Agronómica do ISA/UTL