A Obscuridade do Sector do Azeite – Sérgio Lavado

O que é o Azeite Virgem Extra? Qual a diferença entre azeite, azeite virgem e azeite virgem extra? Quais as diferenças entre um azeite e um óleo vegetal? A estas perguntas, que aparentemente parecem estúpidas a maioria dos consumidores de azeite no mundo terão grande dificuldade em responder. Não será exagerar dizer que a maioria da população desconhece a existência de tal produto e que, os conhecedores, dirão simplesmente que dentro das diferentes categorias de azeite o virgem extra é o melhor e que a diferença entre o azeite e os óleos vegetais é que o azeite é melhor “e ponto final”. 99% não saberá dizer o que é a categoria “azeite” e terá grande dificuldade em diferencia-la das restantes categorias.

Se perguntarmos a um português que percentagem representa o azeite dentro da generalidade dos óleos vegetais a nível global, muitos dirão 30-40%. À pergunta qual o consumo per-capita a nível global provavelmente responder-nos-ão 7 ou 8 litros por ano e se questionarmos alguém relativamente ao preço do azeite certamente nos dirão que está caro. Quanto à pergunta qual é para si o melhor azeite? A resposta será: que seja suave e que não pique nem amargue. E para terminar a conversa com o nosso consumidor perguntamos-lhe se considera que o azeite é um alimento funcional e aí já se riem na nossa cara e dizem que “claro que não, os alimentos funcionais são os iogurtes danacol, as margarinas becel, os leites enriquecidos com cálcio, etc.”

E assim está desgraçadamente o sector do azeite! Por um lado um consumidor pouco ou nada informado, por outro uma produção e distribuição pouco interessada em informar. Desta forma onde irá parar o sector? Globalmente o azeite é um produto com uma diminuta importância económica dado que apenas representa 3% da totalidade dos óleos vegetais, desta forma é difícil lutar contra os interesses económicos que advém do consumo dos óleos de soja (29%), palma (27%), colza (13%) e girassol (9%). Assim, por cada trabalho publicado sobre o azeite são publicadas centenas ou milhares de trabalhos acerca destes óleos e então os benefícios nutricionais, organoleticos, ambientais e sociais que advém da produção de azeite permanecem, a nível global, na obscuridade.

Por outro lado, nunca se plantaram tantos olivais como hoje em dia, chegando as cifras aos 35 milhões de oliveiras plantadas no mundo a cada ano que passa. Contrariamente, ainda que muito se esforcem os médicos investigadores em dar ênfase aos benefícios do consumo de azeite, este têm-se mantido praticamente constante, tendo-se mesmo reduzido bastante em alguns países, como é o exemplo abstracto de Espanha. Aconselham os médicos o consumo diário de entre 40 e 60 gramas de azeite virgem extra por dia (uma torrada com azeite e uma salada), o que nos daria o “bonito” valor de 18kg por ano e pessoa. E qual o consumo actual a nível global? 417g por pessoa e ano, um consumo 43 vezes inferior ao recomendado. Estes valores espelham bem o enorme potencial de crescimento que tem o azeite e explicam o porquê das novas plantações nos quatro cantos do mundo.

E o que se têm feito para aumentar o consumo? Reduzir preços. Alguém já viu alguma campanha publicitária ao azeite que não seja a redução dos preços? Alguém já viu algum tipo de publicidade na televisão que dê a conhecer os benefícios para a saúde que advém do consumo de azeite? Muito provavelmente não! Apenas redução de preços! Mas realmente poupa-se alguma coisa comprando um azeite a 3€ o litro, num país como Portugal onde o consumo médio per-capita é de 5-6 litros por ano? Compete em preço o presunto pata negra com o fiambre? Compete em preço a carne alentejana com a carne “marca branca”? Compete em preços o vinho do Porto com o vinho branco de mesa? Então porque compete em preço o Azeite Virgem Extra com os óleos vegetais? Alguém lhe passa pela cabeça utilizar óleo de girassol numa salada? Melhoram os óleos vegetais o sabor dos alimentos? São estes óleos obtidos por processos unicamente mecânicos? Quais os benefícios que aportam à saúde Humana os óleos vegetais? Então se nada tem a ver um óleo vegetal com um azeite porque competem em preços? Incompreensível.

Este caminho de baixar preços ao azeite está a levar à ruína os olivais tradicionais, que hoje em dia representam 80% da área mundial de olival e 40% do azeite produzido. Mas mais grave que isso é que até já alguns olivais intensivos e super-intensivos deixaram de ser viáveis economicamente. Por este caminho onde se irão produzir as azeitonas para extrair o azeite? Difícil responder a esta questão. Redução de preços não é certamente o caminho para o aumento do consumo do azeite, o caminho é a promoção e a divulgação dos benefícios para a saúde que advém do seu consumo e as potencialidades organoléticas desta gordura que é a única à face da terra que é verdadeiramente saudável. E isso como se consegue? Unindo esforços desde o produtor até ao distribuidor, passando pelos médicos, universidades, clubes de futebol, programas de culinária, restaurantes, e principalmente todos e cada um em nossas casas! Pagar por um produto o seu real valor está nas mãos de cada um de nós, tal como está nas mãos de cada um de nós, melhorar a nossa saúde alimentando-nos de forma saudável com produtos como é sem dúvida alguma o Azeite Virgem Extra!

Sérgio Lavado
Estudante no IX Mestrado em Olivicultura e Azeites da Universidade de Córdoba

A Agricultura a Globalização e a Economia – Sérgio Lavado


Publicado

em

por

Etiquetas: