A floresta nacional, as celuloses e os “intelectuais do pau” – João Dinis

As empresas de celulose e de aglomerados, nas mãos de três ou quatro grandes grupos económicos e multinacionais, estão de novo, em toda a linha, a pressionar a fileira florestal, os governantes e a opinião pública.

Dizem até (ou chantageiam?) que têm recursos financeiros para investir em Portugal mas que, tal como estão as coisas na fileira florestal, não podem investir cá e terão que ir investir para fora do País…

O maior pretexto para uma tal pressão é, pois, o da alegada falta de matéria prima para se abastecerem no mercado nacional, pelo que estão a ser “forçadas” a importar madeira, dizem-nos.

Por coincidência – ou não será por coincidência ? – aí temos um numeroso coro de pressurosos “intelectuais do pau” a teorizarem sobre os males da nossa Floresta e a coincidirem – ou não será pura coincidência ? – numa das principais “teses” das celuloses: – segundo eles, a maior culpa pela situação, de facto muito preocupante da Floresta Nacional, recai sobre a “pulverização” da propriedade rústico-florestal. Portanto, concluem, é preciso “re-estruturar” a propriedade ou seja, é necessário ” re-estruturar” centenas de milhar de pequenos e médios proprietários/produtores florestais, e até será necessário “re-estruturar”, enfim, a propriedade comunitária dos Baldios os quais, por sinal, até dispõem de áreas florestais grandes.

Isto até parece já uma “teoria” para dar cobertura a uma espécie de “solução final” (eliminação…) para umas centenas de milhar de pequenas parcelas florestais…

Bem, mas antes de prosseguir, devo explicar por que razão me lembrei de apelidar esses “teóricos” da Floresta de “intelectuais do pau”: – é que na essência das suas conjecturas – e alguns deles são pessoas com grandes responsabilidades perante o que de mau aconteceu e acontece na nossa Floresta – na essência das suas conjecturas, dizia, tendem para apoiar (talvez por desinformação de muitos deles) a produção industrial intensiva, monocultural, de espécies florestais de crescimento rápido.

Ora, em Portugal e no mundo, produzir madeira não é a mesma coisa que produzir “pau” ( e esta paga direitos de autor…).

Sim, produzir madeira não é a mesma coisa que produzir “varas” de eucalipto e mesmo de pinheiro. “Varas” que da mata seguem para serem estilhaçadas, trituradas, submergidas e cozidas em colas, vernizes e ácidos nas celuloses e nas fábricas de aglomerados !

Mas, afinal, será que a excessiva concentração da propriedade/exploração florestal em áreas enormíssimas nas mãos de grandes proprietários/produtores – como acontece no eucalipto e no sobreiro – será que essa muito grande concentração da propriedade não é um problema sócio-económico e ambiental ainda maior que o da pulverização da propriedade?

A elevada concentração da propriedade/produção florestal, por exemplo na mão das celuloses, permite controlar a fileira e impor baixos preços da madeira aos pequenos e médios Produtores Florestais. E no Sobreiro (cortiça) é a mesma coisa.

Por outro lado, as monoculturas intensivas são sempre prejudiciais ao ambiente e à Natureza (biodiversidade). E deve ser por isso mesmo que, na recente e pretensamente “verde” proposta de reforma da PAC, a Comissão Europeia está a abrir a possibilidade de, pela primeira vez, subsidiar o investimento em espécies florestais de crescimento rápido…

Precisamos de melhores preços à Produção e de outras e mais sérias políticas (agro)Florestais

Acontece que o factor por excelência estruturante é o preço à Produção e isso também é válido para a produção florestal.

A nossa madeira, na mata e fora desta, está a preços baixos desde há já muito tempo. Aliás, há demasiado tempo para que assim continue também porque, em tais condições, nem um “milagre” poderá resolver o imbróglio da chamada “gestão activa” da Floresta.

Ora, uma vez que as celuloses estão “cheias” de recursos financeiros, então por que razão não pagam mais pela madeira à Produção ? Pagando melhor pela madeira, logo aumentaria bastante a produção mesmo com a tal “pulverização” da propriedade. Aliás, já foi isso mesmo que aconteceu há vinte / trinta anos atrás quando o “novo” eucaliptal se “apropriou” de vastíssimas áreas onde até aí havia pinhal… O problema é que as celuloses e outras grandes empresas da fileira estão é interessadas em obter a matéria prima ao mais baixo preço seja em Portugal seja em África ou Brasil ou China.

A Floresta Nacional continua desprotegida e desordenada. Órfã de políticas públicas eficazes.

Com o PRODER ausente da produção florestal. Com as “famosas” ZIF a patinar – as ZIF foram uma “invenção” que, por assim dizer, já “ardeu”…

Com o actual governo ( que tende para se submeter aos grandes interesses e outros “lobys” que cobiçam a Floresta ) apenas a ameaçar com a eventual penalização fiscal – que será inconstitucional – dos proprietários que não cuidem da suas parcelas agro-florestais e de uma forma tal que mais será uma “expropriação” de facto.

Entretanto, uma série de pragas e doenças está dizimar a Floresta a um ritmo hoje mais “sistemático” do que o dos próprios incêndios florestais.

Neste contexto, e durante todo o ano de 2011 — Ano Internacional da Floresta — a CNA tem vindo a propor e a reclamar aos Governos e a outros Órgãos de Soberania a definição urgente de um Plano Nacional de Emergência para dar combate eficaz às doenças e pragas da Floresta ( e não apenas ao Nemátodo). Mas oficialmente “assobia-se para o lado” e apenas se diz que não há verba…

Então e o “Fundo Florestal Permanente” para onde todos os dias estamos a contribuir através da taxa incluída no custo dos combustíveis ?…

E que se passa quanto a um semi-clandestino “fundo florestal atlântico” ?…

Aliás, no caso do combate ao Nemátodo, há grandes atrasos nos pagamentos de compromissos do Estado para com várias Entidades. Também por isso, pode dizer-se que o combate ao Nemátodo está a ser negligenciado e com pesadas consequências.

Pois bem, se não há verba para dar combate sistemático e eficaz às pragas e doenças da Floresta pois que se arranje essa verba e o mais depressa possível enquanto ainda houver Floresta que mereça a pena !

Antes que áreas enormes passem a ser “cemitérios de pau podre”…

João Dinis

Alto Douro Vinhateiro Património Mundial – João Dinis


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