Como será o consumo nos próximos anos? – José António Rousseau

O consumo é, e continuará a ser sempre, a atividade económica mais popular do mundo. Em 2008, Portugal era um dos países da União Europeia que mais consumia em percentagem do seu PIB. O valor do consumo final – consumo privado mais consumo público – em percentagem do PIB era de 87,9% enquanto a média europeia era somente de 78,3% do PIB. Só a Grécia e o Chipre possuíam níveis de consumos mais elevados do que os de Portugal.

Estes números explicam bem a evolução e a modernização da sociedade portuguesa. Pela primeira vez, em décadas, as famílias portuguesas tiveram oportunidade de, através do consumo de bens e serviços a que antes não tinham acesso, melhorar as suas condições de vida. O consumo democratizou-se e vulgarizou-se. Para tal, muito contribuiu o fácil acesso ao crédito, de uma forma simples e fácil como os portugueses nunca antes tinham conhecido.

Porém, desde o início da crise, em Setembro de 2008, a concessão de empréstimos para consumo pelas instituições de crédito especializado caiu para quase metade. Esta redução do crédito ao consumo contribuiu também para uma forte redução do consumo e, consequentemente, da procura, logo, das vendas de produtores e distribuidores. Esta brutal quebra do consumo privado encerra novos paradigmas: A necessidade de repensar modelos de negócio, a extensão da atual oferta e da capacidade instalada.

Quase todos afirmam que será consumindo menos. Tal caminho irá implicar e exigir um grande debate nacional técnico, não político, sobre o consumo. Este debate deverá envolver empresas da produção, da distribuição, dos serviços, consumidores, profissionais, meios de informação e universidades. Só assim será possível conciliar necessidade e encontrar ferramentas que permitam estimular a economia e o consumo.

Com menos consumo teremos menos marcas, mais encerramentos de lojas, grave ausência de estímulos para a novidade, forte redução da capacidade de investimento. Por tudo isto temos a imperativa obrigação de fazer alguma coisa. Mas o quê? O Fórum do Consumo pretende ajudar nessa partilha e colaborar, enquanto plataforma de diálogo, e contribuir para a criação de um clima de confiança entre todos os atores. Algo indispensável para se poder trabalhar em conjunto de forma verdadeira, com vista a criar, implementar e antecipar soluções. Assim o Fórum do Consumo tem por missão:

  • Agregar interesses, dirigindo-se aos seus associados e aos mercados, nos quais procurará criar o necessário envolvimento para que todos, sem exceção, se sintam parte integrante do projeto;
  • Constituir um espaço neutral e aberto à livre troca de opinião, ao debate construtivo, ao estudo dos fenómenos das relações comerciais e de consumo, celebradas entre consumidores, profissionais, meios de informação, universidades e empresas da produção, da distribuição e dos serviços;
  • Contribuir para a inovação dos processos, das metodologias, dos projetos, de modo a conseguir energizar a sociedade portuguesa e levá-la a acreditar que tudo é possível e que o pensamento, a ação e a atitude positiva são imprescindíveis;

É também incompreensível que os meios universitários continuem a dedicar tão pouco do seu tempo ao estudo e ao ensino da temática do consumo, produzindo pouco conteúdos científicos sobre um fenómeno transversal e omnipresente.

O envolvimento de diferentes atores é uma premissa importante, que ajudará a criar sinergia, a debater e aprofundar o conhecimento sobre o fenómeno do Consumo. Só assim, acreditamos, será possível aprofundar o conhecimento e contribuir para a evolução e crescimento sustentado deste fenómeno que nos acompanha diariamente.

José António Rousseau
Presidente do Fórum do Consumo


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