Perguntei-me o que podiam fazer os partidos por esta senhora, e qual o instrumento para minorar os seus danos. Há só uma resposta: só o Estado, seja central, seja local, e os partidos que governam o Estado, podem fazer alguma coisa.
Numa reportagem sobre os incêndios, uma senhora já de certa idade enumerava aquilo que tinha perdido para o fogo: dois chibos, umas galinhas, lenha, cabras, um tractor. Percebia-se que esta era a sua riqueza e tinha desaparecido. Falava num quintal com um galinheiro, e um telheiro, igual a milhares de outros no centro e Norte do país, com o mesmo caos de um sítio onde se trabalha, se dá alimento aos animais, se vai buscar a lenha e se amontoam as coisas inúteis. Não é para ser mostrado, mas o fogo revelou-o aos citadinos, provocou a indiscrição da revelação. A senhora falava dos chibos mortos, outra palavra que vem do Portugal que a televisão não mostra. E o tractor já não devia funcionar, devia estar na sucata – a marca polaca Ursus foi comum nos anos da Reforma Agrária, mas este devia já ser em segunda ou terceira mão. Cito de memória a lista dos “bens”, mas o detalhe não é muito relevante.
Perguntei-me o que podiam fazer os partidos por esta senhora, e qual o instrumento para minorar os seus danos. Há só uma resposta: só o Estado, seja central, seja local, e os partidos que governam o Estado podem fazer alguma coisa. Não sei se fizeram ou vão fazer, mas a única entidade que pode remediar alguma coisa para as perdas desta senhora é o Estado. Com ideologia, ou apenas como gestão, vamos sempre dar ao mesmo: o Estado. A senhora é provavelmente menos pobre do que um velho solitário e doente num bairro da periferia, podemos até considerar que é remediada, […]