O milho é a cultura arvense com maior expressão em Portugal, estando presente em mais de 67 mil explorações agrícolas distribuídas por todo o país.
Ciente da importância de se efectuar um acompanhamento do desenvolvimento desta cultura ao longo da campanha e do país, a ANPROMIS assegurou recentemente a colaboração do Eng.º João Martins que iniciou há cerca de três semanas um períplo pelo país, acompanhando o desenvolvimento de diversas parcelas de milho em quatro zonas de produção que julgamos relevantes – Vila do Conde, Mondego, Ribatejo e Alentejo.
Face ao interesse desta informação, partilhamos de seguida o levantamento efectuado no âmbito do “CropTour – InovMilho 2022”:
Vila do Conde
Destino da cultura: milho silagem/grão
Sistema de rega: canhão de rega (transportado de parcela em parcela)
Observações:
Heterogeneidade geral no desenvolvimento vegetativo das plantas;
Observaram-se zonas com plantas em stress hídrico, nomeadamente, em manchas de solo com textura permeável à água;
Comparação com campanhas anteriores:
Em relação a campanhas anteriores, existe a necessidade de regar mais vezes, incluindo parcelas que por norma são de sequeiro;
Altura das plantas é menor quando em comparação com os anos considerados normais;
A grande maioria das parcelas visitadas apresentava plantas no estádio fisiológico de floração durante a onda de calor, o que poderá levar a quebras de produção e de qualidade.
Mondego
Destino da cultura: milho grão
Sistema de rega: gravidade
Observações:
Verifica-se, de modo geral, que a altura das plantas é menor quando em comparação com a altura das plantas em anos considerados normais;
Grande percentagem da área de milho semeada encontrava-se em floração durante a vaga de calor de há 15 dias, o que poderá causar perdas de produção;
Heterogeneidade nas parcelas quanto ao desenvolvimento vegetativo, mas menos significativa do que em outras zonas de produção (reservas de humidade no solo até mais tarde);
Ribatejo
Destino da cultura: milho grão
Sistema de rega: pivot e gota a gota
Observações:
Heterogeneidade geral no desenvolvimento vegetativo das plantas, sendo mais notório nas parcelas semeadas a partir do início de maio e em que o sistema de rega implementado é do tipo gota a gota (costumando ser instalado com o milho joalheiro e depois da sacha e da adubação de cobertura) e no momento da sementeira a reserva de humidade do solo era baixa e as temperaturas registadas foram altas (nomeadamente a máxima) em relação a um ano considerado normal;
Observam-se zonas com plantas em stress hídrico, nomeadamente em manchas de solo com textura permeável à água e na zona das bordaduras e cabeceiras das parcelas;
Comparação com campanhas anteriores:
Altura das plantas menor quando em comparação com a altura média das plantas em anos considerados normais;
Grande percentagem da área de milho semeada encontrava-se em floração durante a vaga de calor, o que poderá causar algum deficit de polinização.
Alentejo
Destino da cultura: milho grão
Sistema de rega: pivot
Observações:
Heterogeneidade geral no desenvolvimento vegetativo das plantas, sendo mais notório nas parcelas semeadas a partir do início de maio;
Grande percentagem da área de milho semeada encontrava-se em floração durante a vaga de calor de há 3 semanas, o que poderá causar perdas de rendimento;
Conclusões:
Nas observações efectuadas ao longo das últimas três semanas nas várias zonas de produção, verifica-se que haverá certamente uma quebra de produção em relação a um ano considerado normal;
A percentagem de quebra de produção poderá ser significativamente maior caso a polinização tenha sido deficiente devido às temperaturas anormalmente elevadas, por vários dias consecutivos, durante a floração, não ocorrendo portanto a perfeita fecundação dos óvulos.
Fonte: Anpromis