Qualidade e conservação na cultura da cebola – Bruno Estevão

De acordo com dados do Gabinete de Planeamento, o grau de autoaprovisionamento da cebola em Portugal, é de apenas 45,7%, o que demonstra a importância estratégica de apostar nesta cultura.

Avaliando o deficit da balança comercial nesse produto e vendo o potencial da sua produção na nossa área de influência, a cebola tem sido uma aposta crescente no seio da Agromais.

Somos o maior player produtor em Portugal nesta cultura, mas isso implicou anos de aprendizagem e experimentação, quer no campo, quer em armazém. Conseguimos hoje fornecer cebola de qualidade durante o ano inteiro, o que é um grande motivo de orgulho para a organização.

Para o efeito foram fundamentais os passos que demos na seleção das variedades mais adaptadas às nossas condições edafoclimáticas, a experimentação de diversos ciclos e épocas de produção e a construção de infraestruturas de conservação e armazenagem específicas para esta cultura.

Como em qualquer outro produto que se pretenda armazenar, a qualidade é um fator decisivo. No caso da cebola e tendo em conta armazenamento de longa duração é essencial realizar um tratamento no campo com anti-abrolhante, e o controlo de qualidade do produto final é imprescindível (por exemplo, cebola com podridões ou mau encascamento, nunca pode ser considerada para um armazenamento a médio/longo prazo).

O armazenamento a médio/longo prazo da cebola envolve em 3 etapas:

  • Secagem – tem como objectivo a eliminação de humidade a mais acumulada na rama, se existir. Fase que requer muita ventilação;
  • Cura – com esta fase pretende-se que a cebola adquira uma cor caramelizada. Requer menos ventilação e humidades mais elevadas do que na fase anterior. Ventilação a mais poderá provocar uma secagem excessiva.
  • Refrigeração – após as duas fases anteriores baixa-se a temperatura o mais rápido possível dependendo do tempo que se pretende armazenar. Nesta fase a humidade não deve ser muito elevada devido principalmente ao enraizamento que se pretende evitar.

A cebola retirada das câmaras a temperaturas baixas deverá sempre ser alvo de ventilação forçada à temperatura ambiente durante o mínimo de 48 horas, de modo a evitar condensações e a minorar as diferenças de temperatura.

Para o sucesso deste armazenamento é necessário um rigoroso controlo de temperaturas e humidades, bem como uma verificação periódica da qualidade. Através da colheita e armazenamento em caixotes de madeira controlamos a rastreabilidade, durante todo o circuito da cebola.

Este trabalho continuado tem sido possível com um esforço conjunto dos produtores e da Agromais, o que demonstra bem a importância das Organizações de Produtores no desenvolvimento e introdução de novas culturas.

Temos a convicção que estamos no bom caminho, mas também sabemos que só podemos continuar a evoluir se mantivermos a nossa política de experimentação e procura de novas soluções. Acreditamos no potencial da cultura e na capacidade dos nossos agricultores. Da nossa parte, já sabem; “nós estamos aqui!”

Bruno Estevão
Departamento Técnico da Agromais


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