A Câmara de Vila Nova de Poiares defendeu hoje uma maior atenção e recursos por parte do Governo ao projeto das cabras sapadoras, salientando que “é necessário criar verdadeiros incentivos” para o programa.
“O Governo tem de olhar para este projeto com alguma atenção, porque são projetos importantes para fixar pessoas e para termos uma floresta mais sustentável e mais resiliente contra os fogos. É necessário criar verdadeiros incentivos que possam ser potenciadores de mais investimentos”, disse à agência Lusa o presidente do município, João Miguel Henriques.
Aquela câmara do interior do distrito de Coimbra inaugura na quinta-feira, com a presença do secretário de Estado das Florestas e Ordenamento do Território, João Paulo Catarino, o Capril da Serra, infraestrutura instalada na Serra do Bidoeiro, no âmbito da criação de um rebanho de cabras sapadoras, promovida pela Junta de Freguesia de São Miguel de Poiares.
João Miguel Henriques recordou que os 60 mil euros gastos naquela infraestrutura foram apenas investimento da Câmara de Vila Nova de Poiares e que, pela forma como o projeto das cabras sapadoras está desenhado, “a maior percentagem de contribuição acaba por sair das juntas e das câmaras”.
“É preciso o Governo apoiar de forma mais efetiva, até porque se aparecerem mais projetos irão contribuir para a proteção das florestas e para as dinâmicas económicas do concelho”, vincou, frisando que, para um jovem avançar nesta área “tem de fazer um grande investimento”.
Nesse sentido, se não houver “um verdadeiro incentivo, acaba por não ser apelativo”.
De acordo com João Miguel Henriques, o Capril da Serra e o rebanho de cabras sapadoras já estão há algum tempo a funcionar, contando com um total de cerca de 70 cabeças.
“Gostaríamos que este projeto pudesse ser replicado e ganhasse escala”, defendeu, recordando que até na vertente gastronómica há falta de matéria-prima (cabras velhas) para fazer o prato mais conhecido do concelho, a chanfana.
Para a sustentabilidade do projeto, está previsto rentabilizar todos os subprodutos, tais como a carne de cabrito, de cabra e o leite.
A curto prazo, a autarquia gostaria de encontrar um parceiro privado para avançar com uma queijaria no concelho para um aproveitamento local do leite não apenas daquele rebanho, mas também de outros pequenos produtos do concelho.
O presidente da Junta de São Miguel de Poiares, João Feteira, explicou à Lusa que o rebanho de cabras serranas chegou em setembro de 2021, tendo havido um período de adaptação ao território.
O rebanho está responsável por ‘gerir’ 51 hectares da comunidade de baldios de São Miguel, que tem um total de cerca de 400 hectares de terreno, referiu.
Para além da adaptação das próprias cabras, o presidente da junta apontou para outros constrangimentos, nomeadamente a contratação de um pastor para o projeto.
“A pergunta que se faz é: Quem é que hoje em dia quer ser pastor? Este projeto só faz sentido se houver mão-de-obra qualificada. Do primeiro procedimento, uma pessoa não se adaptou, e tivemos que lançar novo concurso e felizmente agora temos duas pessoas afetas ao projeto”, realçou.
O rebanho, que começou com 60 cabras, já conta com mais 15 resultado da primeira gestação, esperando aumentar o contingente em setembro, disse João Feteira, que almeja atingir um efetivo de 200 cabras, no espaço de três anos, para garantir a autossustentabilidade do projeto.