Ao quinto dia de incêndio a população lamenta a “jóia” que se perdeu na Serra da Estrela. “São danos irreparáveis”

Fogo que começou no sábado na Covilhã não deu ainda tréguas aos habitantes daquele concelho nem dos concelhos vizinhos. População lamenta ver a serra a arder num incêndio cujo perímetro já atingiu, pelo menos, cerca de 25 quilómetros.

António Soares e a esposa caminham apressados para uma quinta na aldeia de Sameiro, em Manteigas (Guarda), não têm mãos a medir para tentar salvar o pouco que conseguirem. “O fogo rápido desce por aí abaixo. A minha mulher já traz ali uns caldeiros para encher com o que lá temos [na quinta]: umas batatas, cebolas, as galinhas, gatos, coelhos, a minha vida toda. O que ainda conseguirmos tirar”, diz António Soares, de 76 anos. Por enquanto ainda só se vê uma grande mancha de fumo, denso, no topo da encosta. Não por muito tempo.

“Tenho medo que o incêndio desça e que me venha aqui afectar a casa, a quinta”, inquieta-se António Soares. Enquanto conversamos com António, já a mulher passa ligeira. Chama por ele: “vais de chinelos, homem? Mexe-te, não vês o fogo?”, pergunta preocupada. Lá volta António para trás para calçar algo mais apropriado.

Já não o voltamos a ver passar para a quinta. Seguimos caminho para o lugar mais cimeiro da aldeia, onde o incêndio que se iniciou em Garrocho, no concelho da Covilhã, há cinco dias, lavra agora com maior intensidade. No ar o fumo é negro e as labaredas vão altas.

As primeiras horas da manhã desta quarta-feira ainda faziam adivinhar um dia mais sossegado — até se esperava chuva, mas não chegou — do que o anterior naquela povoação e nas localidades vizinhas. Esse não foi o caso. O incêndio tem vindo a propagar-se ao longo dos dias: chegou a Manteigas, alastrou-se a Verdelhos e, desse lado da ladeira, ameaçou algumas casas de Sameiro. A noite de terça-feira acalmou as chamas, mas as temperaturas altas sentidas durante o novo dia e o vento que soprava em todas as direcções atiçava mais o fogo, que depressa se propagou. De tarde, já se tinha alastrado também à Guarda e a Gouveia.

“Lá no meio não se pode estar. É impossível”
De um lado para o outro passam carros de combate ao incêndio. Estamos agora na frente de fogo que durante o início da tarde desta quarta-feira gerava maior preocupação, no cimo da aldeia. E chegamos ao sítio a partir do qual os carros não podem avançar mais e onde também os meios de combate aos incêndios tendem a não progredir no terreno. “As labaredas daqui não parecem tão grandes, mas lá no meio não se pode estar. É impossível”, comenta um dos bombeiros.

Além dos bombeiros, também os vizinhos que ali vivem se concentram naquele local. Observam em silêncio as chamas que crescem e que rapidamente começam a ameaçar as casas. A floresta arde. Os terrenos de cultivo que existirem também são consumidos.

“Não regressei a casa […]

Continue a ler este artigo no Público.


Publicado

em

, ,

por

Etiquetas: