Afinal ainda há portugueses com a coragem da padeira de Aljubarrota! Na maior feira mundial de frutas e legumes, que ocorreu este mês em Berlim, lá estavam os portugueses, na sua grande maioria unidos sob a mesma Associação. Dá gosto ver que há portugueses que acreditam no seu País, no seu trabalho, nas suas empresas. Na noite de quarta-feira juntaram-se para ouvir o Embaixador português dizer que as únicas pessoas que ainda duvidam do mérito dos nossos empresários, admirem-se, são os próprios portugueses. É fantástico constatar que embaixadores, governantes, empresários – jovens e menos jovens -, unindo-se, trabalhando com empenho real, com vontade de trazer riqueza para o País, o conseguem fazer. O governo germânico é composto pelo conhecido bloco central (em Portugal poderia equivaler ao PS e PSD juntos), que oferece estabilidade aos empresários – a agricultura também precisa disto . Foi muito gratificante ver que os empresários agrícolas se sentem apoiados, quer por uma ministra que almeja unir o sector, quer por um embaixador que acredita nos seus irmãos portugueses.
Gostei de ver que a presença menos numerosa de Portugal, face a países como a Espanha – diga-se que os nossos vizinhos ibéricos se traduzem provavelmente no maior expositor da feira -, não nos tira qualquer dignidade. Já pensou o que é vender exactamente o mesmo que o seu vizinho do lado e vê-lo, não como um alvo a abater, mas sim como um aliado de peso? É isso que os portugueses têm feito, e com todo o sucesso. A união faz, mesmo, a força. Os produtores de frutas e hortícolas que se encontravam naquela feira não têm medo de se expor à crítica, arriscando com gosto, e estes pequenos passos têm feito a diferença. A originalidade de alguns países, a exuberância de cores e sabores da América Latina, não tem por que superar a qualidade dos nossos produtos. Efectivamente, ouvi elogios aos nossos frutos, que abrangeram desde a castanha é às fantásticas framboesas.
No próximo ano, almejamos ser o País com mais visibilidade da feira de Berlim, enchendo aquela cidade de bandeiras portugueses, o que naturalmente terá mais-valias em áreas que extravasam a da agricultura. E os portugueses acreditam que é possível? Vamos precisar de mais empresários, mais apoio e mais união. A maioria dos expositores nacionais presentes comercializa pêra rocha e maçã então, surge a pergunta: “Mas não se cultivam outras frutas em Portugal?” Sim, e já damos cartas na cenoura ou na batata, assim como também comercializamos sumos únicos no Mundo. Contudo, queremos mais já em 2015! Mas por que não estivemos fortemente representados, por exemplo, no mercado dos pequenos frutos? É curioso que, caracterizando-se a região do oeste pela existência de propriedades de pequena dimensão, seja aquela a região portuguesa mais representada. Temos de ganhar dimensão para podermos abastecer os mercados externos. O caminho a seguir é este: a associação de agricultores! Caminhando cada um por si jamais exportaremos em quantidades interessantes, jamais conseguiremos competir com gigantes, jamais a qualidade que nos deve distinguir será apreciada! Se pensa produzir algum produto mas não pretende unir-se aos seus concorrentes, então, honestamente, creio que deve visitar Berlim em 2015 e ver com os seus olhos o que lá se passa. Para um produtor agrícola, não há nada como ver e ser visto.
Mais desafios? Claro. É bom que todos os agricultores portugueses visitem feiras desta dimensão para perceberem o que pedem os consumidores, ganharem conhecimentos acerca do mercado, e não produzirem apenas o que querem mas o que o mercado anseia por receber dos portugueses!
Para o ano há mais, e nós temos tudo a ganhar em sermos País parceiro desta e de outras feiras. Em 2014 foi fantástico, em 2015 será ainda melhor.
Lopo de Carvalho
Engenheiro agrónomo
Aquagri A.C.E – Serviços e Equipamentos de Gestão de Água