Seca histórica nos rios europeus ameaça paralisar o comércio

O rio Reno deverá ficar praticamente intransitável, num ponto de paragem importante, impedindo o transporte de diesel e carvão. Previsões apontam para agravamento da situação.

Devido à seca que está a assolar a Europa e a levar ao emagrecimento dos rios, o rio Reno — que é, desde há séculos, um pilar das economias alemã, neerlandesa e suíça — corre o risco de ficar praticamente intransitável num ponto de paragem importante, o que poderá impedir o transporte de cargas relevantes de diesel e carvão. O rio Danúbio também está numa situação precária, o que deverá afectar o comércio de cereais.

Na Europa, o transporte de mercadorias é apenas um dos elementos do comércio fluvial que foram prejudicados pelas alterações climáticas. A crise energética em França piorou porque os rios Ródano e Garona estão demasiado quentes para arrefecer os reactores nucleares. Por outro lado, o rio Pó, em Itália, está demasiado seco para regar campos de arroz e ter amêijoas.

Se as interrupções no transporte fluvial de mercadorias já são um desafio em tempos prósperos, a Europa está neste momento à beira da recessão, uma vez que a invasão da Ucrânia está a levar ao aumento da inflação — o que, por sua vez, está a interferir com o abastecimento de alimentos e energia. A situação actual — que ocorre apenas quatro anos após uma interrupção histórica do transporte marítimo no rio Reno — aumenta a urgência de a União Europeia (UE) encetar esforços para tornar o transporte fluvial mais resiliente. [Aqui encontram-se as imagens espaciais que mostram as diferenças no rio Reno entre Agosto de 2021 e Agosto de 2022.]

De acordo com cálculos baseados em dados do Eurostat, a organização de estatísticas da Comissão Europeia, os rios e canais do continente europeu, que anualmente permitem o transporte de mais de uma tonelada de mercadorias para cada cidadão europeu, contribuem, dessa forma, com cerca de 80 mil milhões de dólares (mais de 78 mil milhões de euros) para a economia da região. Mas as consequências dos rios secos vão mais além.

“Não se trata apenas de navegação comercial. Trata-se de permitir que as pessoas se refresquem quando está quente, trata-se de irrigar os terrenos agrícolas, trata-se de muitas coisas”, diz Cecile Azevard, directora da operadora de água Vias Navegáveis de França. “Os rios fazem parte da nossa herança.”

As más condições ambientais observadas actualmente deverão ter um impacto financeiro maior do que o impacto de cinco mil milhões de euros que os problemas de navegação no rio Reno provocaram em 2018, segundo Albert Jan Swart, economista do ABN AMRO, banco comercial e de investimentos dos Países Baixos. Enquanto esta seca se mantiver, as embarcações de navegação interior terão o seu trabalho “severamente condicionado”, diz, afirmando que também entram na equação “os danos causados na Alemanha pelos preços elevados da electricidade”.

Até veteranos experientes estão chocados com a situação actual. Gunther Jaegers, gerente da Reederei Jaegers, empresa alemã de transportes por vias navegáveis ​​interiores, disse que caiu da cadeira no início deste mês, quando olhou para os custos dos transportes e viu que, num único dia, a taxa associada à circulação de barcaças subira 30%. “Nunca vi isto”, disse. “É uma loucura.”

A exploração excessiva dos recursos naturais está a sobrecarregar os sistemas fluviais

Rio pode ficar demasiado seco para as barcaças circularem

Embora a Reederei Jaegers e outras empresas de transporte possam cobrar mais por cada tonelada de mercadorias, elas não podem transportar tantos bens como em condições normais: com a água mais baixa, têm de transportar cargas menores para navegar com segurança. E não há alívio à vista. “Se olhar para as previsões do tempo, é como um deserto”, diz Gunther Jaegers.

No extremo Sul do desfiladeiro do rio Reno — uma área conhecida pelos vinhos Riesling —, os vinhedos escureceram, ao passo que, na cidade alemã de Colónia, um restaurante flutuante encalhou depois de as águas terem recuado.

A profundidade do rio na vila que fica a oeste de Frankfurt, na Alemanha, já chegou a cair para 40 centímetros. A esse nível é praticamente impossível uma barcaça navegar.

O Reno é fundamental para permitir o transporte de mais carvão para as centrais energéticas alemãs, o que é fulcral para ajudar a compensar o impacto do aperto da Rússia no fornecimento de gás. Mas o Governo do chanceler alemão Olaf Scholz teme que os problemas de transporte possam minar os planos de reactivar algumas centrais desactivadas.

A França, normalmente um exportador de energia, não pode ajudar a aliviar a crise energética porque muitos dos reactores nucleares do país (quase metade) encontram-se indisponíveis, estando a ser realizados trabalhos de manutenção. A […]

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