A importância da seleção de varas para a produtividade dos eucaliptais, associada a uma crescente falta de mão de obra na floresta, e em particular de motosserristas, levou a área de Inovação e Desenvolvimento Florestal da The Navigator Company a estudar alternativas para a realização desta operação.
“Os proprietários têm cada vez mais dificuldade em fazer o ‘corte dos rebentos’ no momento certo, por falta de pessoal, e uma elevada densidade de varas nos povoamentos de eucalipto provoca uma redução da produção de madeira final, em particular de madeira com dimensão comercial vendável. Acresce que uma grande densidade de varas e de rebentos num povoamento aumenta o risco de incêndio”, explica José Rafael, da área de Inovação e Desenvolvimento Florestal da Navigator. “Observou-se que as tesouras elétricas a bateria, hoje largamente utlizadas com sucesso na poda de vinhas e fruteiras em Portugal, poderiam ser usadas em substituição ou em complemento da utilização da motosserra”.
A área de Inovação e Desenvolvimento Florestal da Navigator promove testes com a ferramenta, devido à dificuldade dos proprietários em fazer o ‘corte dos rebentos’ no momento certo, por falta de pessoal
O primeiro teste foi realizado num povoamento da Companhia, em abril de 2021, na Quinta do Riacho, em Alenquer, por um prestador de serviços agrícolas da região. Tendo em conta que, até àquela data, o operador não tinha tido nenhuma prática em operações florestais e, mesmo assim, conseguiu, com facilidade e rapidez, realizar o corte dos ramos de eucalipto com até cerca 40 a 45 milímetros de diâmetro, a Navigator considerou a experiência muito animadora.
Após uma observação mais aprofundada do uso desta ferramenta na agricultura e da consulta ao mercado nacional, a empresa adquiriu para testes as tesouras BAHCO BCL24 e INFACO F3015, capacitadas para cortar ramos de eucalipto até 45 milímetros de diâmetro.
A segunda fase de testes iniciou-se em setembro de 2021, com demonstrações a nível nacional, em associações de produtores e junto de sapadores e de prestadores de serviços florestais, tanto para corte de varas e rebentos de eucalipto, como para poda de ramos de pinheiro e de sobreiro. Neste momento vários prestadores de serviço já adquiriram dezenas de tesouras elétricas e estão a decorrer testes com uma minisserra elétrica.
Testes em todo o país
Sarah Ferreira, técnica florestal da Associação de Produtores Florestais do Baixo Vouga, especifica que para além dos técnicos da associação, três funcionários subcontratados experimentaram as tesouras durante cerca de duas semanas de trabalho. Realizaram ensaios de corte em zonas de eucalipto com até dois anos e meio porque, a partir dos 3 anos da planta, a tesoura já não tem ângulo suficiente de abertura. “É, sem dúvida, vantajosa na fase inicial de seleção de varas”, afirma.
Ao nível das vantagens, Sarah Ferreira avança que a principal está no seu manuseamento fácil, por ser uma ferramenta leve, com o cabo ligado a uma bateria que fica pendurada nas costas do utilizador. Permite, por isso, ser usada por qualquer proprietário florestal a título individual em terrenos mais pequenos, como é típico no norte do País. Um trabalho que exigiria mão de obra especializada, como a seleção de varas, pode ser substituído por esta ferramenta, que exige apenas uma formação de duas a três horas e cujo funcionamento é facilmente explicado aos produtores florestais ou a trabalhadores rurais.
“O uso das tesouras elétricas, sem esforço, permite ainda a utilização por todas as idades, democratizando uma operação cara e perigosa feita por agentes específicos, o que é vantajoso devido à falta de mão de obra”, concorda a técnica florestal. Muitas vezes, os mais idosos têm receio de usar a motosserra e a tesoura elétrica é mais segura. Há o cuidado de ter a mão que segura na vara afastada, para orientar a parte que vai tombar, explica.
Benefícios financeiros
Da experiência do produtor florestal João Luís Albergaria, “a tesoura elétrica é uma maravilha. É mais rápida que a motosserra e tem ainda o benefício de não ferir as outras cepas. É que se o motosserrista não for responsável e ferir os outros pés, eles voltam a rebentar”.
O proprietário andou, ele próprio, com uma tesoura elétrica, a acompanhar outro funcionário, durante 15 dias, e considera que “foi facílimo”: “Mondámos mais de 3 hectares. Com oito horas de trabalho, uma pessoa consegue cobrir uns 5 mil metros quadrados”.
Além disso, a motosserra precisa de equipamento de proteção individual mais caro, como calças, luvas e botas anti corte. Para o uso da tesoura elétrica, é recomendado o uso de luvas e de capacete com viseira ou com óculos, não sendo necessário auricular, pois é tudo silencioso. As calças usadas podem ser normais e as botas de biqueira de aço antiderrapantes são as usadas habitualmente para caminhar de forma segura na floresta. Deve ainda ser usado sempre casaco, para proteger os braços e colete refletor que permita ser visto por outros, facilitando a manutenção das distâncias de segurança entre quem realiza o trabalho de corte.
Em termos de segurança, a técnica florestal da Associação de Produtores Florestais do Baixo Vouga acrescenta ainda outra vantagem. O facto de poder ser utilizada em espécies invasoras, tal como testaram em outubro de 2021, com mimosas e austrálias. “Os produtores florestais têm grande repulsa pelas mimosas, esforçam-se muito para as controlar e às vezes andam nas propriedades de catana. A tesoura é muito mais segura.”
O artigo foi publicado originalmente em Produtores Florestais.