Presidente da Agros

Presidente da Agros: “Paradigma do leite excessivamente barato acabou”

O presidente da Agros bate constantemente na mesma tecla: se nada for feito, o processo de desaparecimento do setor leiteiro em Portugal, como o conhecemos, pode ser uma realidade a curto/médio prazo.

A Agros é uma união de cooperativas leiteiras e o rosto de 44 cooperativas de Entre o Douro, Minho e Trás-os-Montes, com aproximadamente 900 produtores de leite. Nos últimos dois anos, Idalino Leão diz que quase 300 explorações foram encerradas. E a erosão continua.

O risco de Portugal não ter leite nacional nas prateleiras dos supermercados é real, mas, para que isso não suceda, o líder da Agros diz que os preços têm de subir. Para o consumidor também. Isto porque, acredita, o tempo do leite barato chegou ao fim.

“O preço do litro de leite, que dá para alimentar uma família média de quatro pessoas por dia, é mais barato do que um café. E, em média, os portugueses tomam dois ou três cafés por dia. Eu acho que isso nos devia fazer pensar a todos”, crítica Idalino Leão.

Que impacto está a ter a inflação na produção de leite em Portugal?

Mais do que a inflação, que está a ter um impacto negativo sobre a produção leite nacional, são as sucessivas crises que a fileira está a ter nos últimos dois anos, nomeadamente a seca, alguma especulação associada também com o aumento geral dos custos e fatores de produção, e para terminar a guerra e todas as consequências que daí advieram.

De tal forma que os principais fatores de produção do nosso setor, os adubos, as rações, o gasóleo, a eletricidade, estão completamente descontrolados numa escala muito, muito acelerada e que está a causar o desespero no setor primário, em particular no setor leiteiro, porque apesar do preço pago ao produtor ter subido, não tem acompanhado o mesmo ritmo do preço destes fatores de produção.

Portanto, segundo o que diz, não é só a questão da inflação que que está a pesar sobre os produtores de leite, mas um conjunto diverso de fatores… Se compararmos com o período antes do início da guerra na Ucrânia, ou seja, fevereiro deste ano, quão mais caro é agora produzir o litro de leite?

Posso dizer que, neste momento, é mais caro em cerca de 50% produzir um litro de leite do que era no período homólogo. O preço do leite subiu à volta de 18 a 20%. Como é fácil de perceber, nós temos aqui um défice que não foi colmatado e obviamente que o preço do leite vai ter que subir ao produtor de forma a ser sustentável.

“Neste momento, é mais caro em cerca de 50% produzir um litro de leite do que era no período homólogo”
Mas também tem que ser sustentável nos elos da cadeia seguintes, ou seja, na indústria e na distribuição. E é com essa expetativa que encaro as mexidas no mercado do leite nos últimos dias, no sentido de que o preço suba também nas prateleiras do consumidor.

Porque o paradigma do leite barato, excessivamente barato ao consumidor, acabou. Não há forma de dizer isto doutra forma. Acabou.

O consumidor hoje percebe isso perfeitamente, porque facilmente percebe que todos os fatores de produção subiram, em todos os setores da economia, e o setor leiteiro não é exceção.

Portanto, estou convencido de que os consumidores aceitarão de uma forma natural a subida do preço do leite para consumo nas prateleiras.

Disse que aumentou 18% neste período, refere-se ao preço ao consumidor?

Ao produtor, ao produtor.

E ao consumidor qual foi o aumento?

Segundo os dados de julho do INE, posso dizer que quando comparados os períodos homólogos de julho, o preço da categoria leite/queijos subiu ao consumidor 11%.
Os aumentos que foram anunciados na segunda-feira aos produtores de três cêntimos, em média, sendo que o Pingo Doce disse que ia dar mais oito cêntimos extra, que repercussão vão ter no consumidor final?

Eu acho o aumento tem de ser acompanhado no consumidor final, porque se não, não é sustentável. Seria impensável para a sustentabilidade de toda a fileira.

Portanto, a distribuição não pode aqui amortecer esta subida?

Eu acho que não pode, nem deve. Doutra forma estaria a desvirtuar todo um negócio, toda uma fileira. Eu vejo estas subidas nos últimos dias com expectativa exatamente de corrigir o que já estava desequilibrado.

Eu quero aqui recordar o relatório da PARCA (Plataforma de Acompanhamento das Relações na Cadeia Agroalimentar), no início deste ano, em que apontava claramente que era importante no último elo da cadeia, ou seja, na distribuição, que os preços fossem produzidos para cima.

Num período em que os portugueses são […]

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