A que sabe um verdadeiro tomate-coração-de-boi?

O júri juntou-se na Quinta de Nápoles para eleger o produtor que melhor tomate-coração-de-boi do Douro conseguiu neste ano climaticamente doido. Ganhou a Quinta do Pessegueiro, mas, pensando bem, os grandes vencedores desta brincadeira séria são todos os hortelãos que recuperam uma cultura que encontra no Douro o terroir perfeito.

Com couves, feijões, favas, frutos variados, vinhos, enchidos, azeite, peixes, mariscos, conservas, algumas carnes, doçaria e milhares de receitas, Portugal adquire uma identidade alimentar muito própria, testemunhada no conceito de Denominação de Origem Protegida. Mas como essa riqueza é, digamos assim, banal, já nem lhe passamos cartão.

Sucede que a transformação de Portugal num país urbano e o crescente peso de cadeias de distribuição são factores que contribuem para a deseducação alimentar dos portugueses. Os próprios mercados municipais, fornecidos a partir de centrais de logística que recebem alimentos produzidos pela regra do quanto mais barato melhor (nem que venham da Mongólia), só pioram o cenário.

E se há um produto que se desgraça com este estado de coisas, ele é o tomate, sendo que os consumidores nem dão por isso. Já nem acham estranho que se consuma tomate entre Outubro e Junho. Afinal de contas, os supermercados estão cheios deles, provenientes de Almería (Espanha), um atentado ambiental com mão-de-obra mais ou menos escravizada. Fundamental é ter sempre tomate à mesa, mesmo que saiba a tudo menos a tomate.

Ora, o Concurso do Tomate Coração de Boi do Douro (CTCBD) foi criado com os seguintes objectivos: primeiro, chamar a atenção da sociedade para um produto que, no Douro, atinge um sabor extraordinário; segundo, criar condições para que qualquer pequeno agricultor possa valorizar dignamente o seu trabalho (e isto no Douro é fundamental); terceiro, recuperar a figura do hortelão nas quintas da região (que desapareceu com as auto-estradas e com as tais cadeias de distribuição) e, quarto, demonstrar que o vale de vinhas mais bonito do mundo não deve viver só de vinho.

O evento tem como ponto alto a eleição do produtor/quinta que consegue apresentar o melhor tomate-coração-de-boi em cada edição, coisa que é decidida por um júri que já anda nisto há anos e sempre com elementos novos. Este ano, na Quinta de Nápoles (universo Niepoort), o vencedor foi a Quinta do Pessegueiro, com o projecto Tanque Science & Wine a ficar em segundo lugar e a Quinta da Manoella (Wine & Soul), em terceiro.

Na […]

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