O presidente da Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela (CIM-BSE) considerou hoje que a proposta da Câmara da Guarda para construção da barragem da Cabeça Alta, no município de Celorico da Beira, tem “todo o cabimento”.
“A proposta do meu colega Sérgio Costa, da Guarda, faz todo o cabimento. Aliás, é algo que já se arrasta no tempo. É mais um adiar eternamente neste país”, declarou Luís Tadeu à agência Lusa.
O presidente da CIM-BSE, que também lidera o município de Gouveia, no distrito da Guarda, referiu que, após os incêndios que atingiram a região da serra da Estrela, deve “concretizar-se algo que é fundamental para todos”.
“O país tem que se consciencializar que não é com campanhas de poupança de água e com o revogar do uso da água por parte das pessoas que resolvemos o problema. É com a questão do represamento da água, quer para abastecimento às populações, quer para abastecimento de água para regadios, para a agricultura no geral e para os animais”, defendeu.
O presidente da CIM-BSE falava à Lusa sobre o assunto, após o presidente da Câmara Municipal da Guarda, Sérgio Costa, ter defendido, na segunda-feira, o retomar do processo de construção de uma barragem no concelho de Celorico da Beira, para evitar descargas no rio Mondego a partir da barragem do Caldeirão.
“Estivemos muitos anos parados na necessária revisão do planeamento estratégico das reservas de água do nosso país. É mais do que tempo para voltar a colocar em cima da mesa, 40 anos depois, a barragem da Cabeça Alta, em Celorico da Beira, para abastecimento de água àquele concelho e a parte do concelho de Fornos de Algodres”, disse o autarca, na apresentação das “Medidas de Contenção Fundamentais para a Moderação dos Consumos de Água no Concelho da Guarda”.
Segundo Sérgio Costa, a construção da barragem evitaria “a necessidade das descargas no rio Mondego a partir da barragem do Caldeirão [que abastece a cidade e o concelho], para enchimento dos açudes que abastecem aquelas populações, tal como teve de acontecer há poucas semanas, o que levou a que a barragem do Caldeirão entrasse na fase crítica”.
“Há muitos técnicos da área, e não só, que defendem que esta barragem já devia estar construída há muitos anos, e é tempo de retomarmos esta necessidade”, justificou.
O presidente da CIM-BSE também referiu que a construção da barragem faz sentido para abastecimento de água aos concelhos de Celorico da Beira, Fornos de Algodres e Gouveia.
Questionado sobre se aquela entidade vai fazer alguns estudos sobre a construção de barragens no território, lembrou que “já há estudos feitos e, portanto, quanto muito, poderá haver alguma atualização e, infelizmente, vai ser dos valores”.
“Há situações que estão a ser preparadas pelos próprios municípios” e, “no devido tempo”, a CIM-BSE apresentará as propostas ao Governo, adiantou.
Como exemplo, apontou que “faz sempre sentido” revisitar o processo de construção de uma barragem em Girabolhos, na zona de Seia.
Luís Tadeu disse, ainda, que nos municípios afetados pelos incêndios deste verão há infraestruturas que “estão completamente ao abandono e que pertencem ao ICNF [Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas]” e, na sua opinião, “de uma vez por todas, devem ser e têm que ser aproveitadas e requalificadas”.
A CIM-BSE, com sede na Guarda, é constituída por 15 municípios, sendo 12 do distrito da Guarda (Almeida, Celorico da Beira, Figueira de Castelo Rodrigo, Fornos de Algodres, Guarda, Gouveia, Manteigas, Meda, Pinhel, Seia, Sabugal e Trancoso) e três do distrito de Castelo Branco (Belmonte, Covilhã e Fundão).
Desde outubro de 2021 até agosto choveu praticamente metade do que seria o normal, segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
O IPMA colocava no final de julho 55,2% do continente em situação de seca severa e 44,8 em situação de seca extrema. Não havia nenhum local continental que estivesse em situação normal, ou em seca fraca ou mesmo em seca moderada.