Secas extremas seguidas de chuvas torrenciais: o ciclo vicioso provocado pelas alterações climáticas

Vagas de calor e secas, seguidas de chuva intensa e enxurradas. Não é um acaso, são fenómenos ligados. Fenómenos extremos como o do Paquistão são mais frequentes por causa do aumento da temperatura global

As inundações no Paquistão deixaram um terço do país debaixo de água, segundo disse o ministro paquistanês dos Negócios Estrangeiros. As vítimas mortais, numa contabilidade por baixo, já ultrapassaram as 1.200. Fazem-se contas a uns 15 mil feridos, mais de 200 mil casas destruídas, para cima de 6,4 milhões de pessoas afetadas de forma crítica – nomeadamente desalojados -, num total de mais de 33 milhões de pessoas cujas vidas foram perturbadas pelas chuvadas sem precedentes na história recente e pelas enxurradas que têm arrasado tudo no seu caminho: casas, estradas, pontes, pastos, negócios, campos agrícolas e gado.

Há milhões de pessoas sem acesso a comida, medicamentos e água potável e centenas de localidades isoladas do mundo sem ter sequer acesso a uma linha de telefone ou rede de telemóvel – um facto faz temer que as estimativas de vítimas possam estar subavaliadas.

Além da necessidade de acudir à emergência imediata – enterrar os mortos, cuidar dos feridos, garantir comida, água potável e medicamentos, assegurar teto aos que o não têm -, haverá um longo caminho a percorrer após esta catástrofe, que começou a desenhar-se em junho com o início da época das monções. Não se trata apenas de reerguer habitações, negócios, fábricas, pontes, estradas, aldeias e cidades, mas também de garantir acesso a comida em localidades que viram o gado afogar-se e as plantações serem dizimadas pela fúria das águas e da lama. A perspetiva de um período de fome no futuro próximo é a ameaça mais imediata sobre as populações afetadas pelas chuvas neste país de 230 milhões de habitantes.

Antes de uma parte do país se ter afundado sob estas “monções em esteróides”, como lhes chamou António Guterres, o Paquistão enfrentou uma violenta vaga de calor, que também atingiu a vizinha Índia. Entre março e abril as temperaturas na Índia quebraram recordes que remontavam a 1901. No Paquistão, o calor chegou subitamente – e mais cedo do que era suposto. As temperaturas subiram para valores acima dos 40ºC, entre 6ºC e 7ºC acima das médias para a época, e a chuva de primavera praticamente não caiu. “Este é um fenómeno climatérico estranho que fez desaparecer completamente a primavera no Paquistão”, constatou então a ministra para as Alterações Climáticas.

A vaga de calor e a seca de março/abril foram o primeiro golpe do ano sobre a produção agrícola de vastas regiões do país, secando culturas e matando animais. Muito do que se salvou da seca da primavera acabou por ser levado pelas enxurradas do verão.

Secas e enxurradas: o ciclo de destruição

A combinação de seca extrema, seguida de chuvas diluvianas e enxurradas destrutivas não é um exclusivo do Paquistão e tem-se verificado um pouco por todo o mundo. Sobretudo tem-se verificado com mais frequência do que era suposto acontecer com este tipo de fenómenos extremos.

Segundo os especialistas, o calor extremo e a chuva extrema estão diretamente relacionados e ambos são alimentados pelas alterações climáticas. As vagas de calor por todo o mundo estão a acontecer com mais frequência do que alguma vez foi registado, fazendo aumentar a evaporação de água, tanto nos oceanos como na terra. Mas como uma atmosfera mais quente permite uma maior concentração de humidade, o vapor de água acumula-se mais, até ao momento em que cai violentamente na forma de fortes chuvadas. Ora, como a terra está demasiado seca não absorve a água e esta corre em enxurradas violentas. E o ciclo vicioso continua…

No caso concreto do Paquistão, estará a sofrer as consequências do aumento das temperaturas no sul da Ásia – atingindo até 50ºC – e o aumento da temperatura do Índico, provocando as tais “moções em esteroides” de que falou Guterres: apenas em agosto caiu sobre o país três vezes mais chuva do que a média dos últimos 30 anos. Sindh, a província mais afetada, com uma população de 50 milhões, registou 466% mais chuva do que a média das últimas três décadas.

Este ano está a […]

Veja a reportagem na CNN Portugal.


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