A crise climática em África pode “desestabilizar países e regiões inteiras” num dos continentes mais atingidos do mundo, advertiu hoje a Organização Meteorológica Mundial (OMM).
Esta agência das Nações Unidas salientou que “o stresse hídrico e os perigos como secas e inundações devastadoras estão a atingir duramente as comunidades, economias e ecossistemas africanos”.
O aviso consta no relatório “O estado do clima em África – 2021”, publicado no âmbito da Reunião Ministerial da África Austral sobre a Iniciativa do Sistema Integrado de Alerta Precoce e Ação Precoce, que começou na segunda-feira e termina hoje, em Maputo.
O estudo, uma iniciativa conjunta da OMM e da União Africana (UA), com especial enfoque na água, revela que os padrões de precipitação estão alterados, os glaciares estão a desaparecer e os principais lagos a diminuir.
Além disso, a crescente procura de água, combinada com fornecimentos limitados e imprevisíveis, ameaça exacerbar conflitos e deslocações de pessoas.
O relatório indica que o elevado stresse hídrico (quando a procura de água é superior à quantidade disponível para um determinado período de tempo ou a sua utilização é limitada pela má qualidade) afetará cerca de 250 milhões de pessoas em África.
E espera-se que, até 2030, será responsável pela deslocação de 700 milhões de pessoas no continente.
A OMM considera “improvável” que quatro em cada cinco países africanos consigam gerir de forma sustentável os recursos hídricos até 2030.
A organização recorda que África representa apenas cerca de 2 a 3% das emissões globais de gases com efeito de estufa, mas “sofre desproporcionadamente com os resultados”.
“O agravamento da crise e a fome iminente no Corno de África assolado pela seca mostram como as alterações climáticas podem exacerbar as crises hídricas, ameaçando a vida de centenas de milhares de pessoas e desestabilizando comunidades, países e regiões inteiras”, disse o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas.
A Comissária para a Agricultura, Desenvolvimento Rural, Economia Azul e Ambiente Sustentável da Comissão da UA, Josefa Leonel Correia Sacko, disse que eventos extremos como ondas de calor, inundações, ciclones tropicais, secas prolongadas e subida do nível do mar “resultam em perda de vidas humanas, danos materiais e deslocação de pessoas”.
Essa realidade, acrescentou Sacko, “mina a capacidade de África” cumprir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU e a Agenda 2063 da UA, que traça o caminho do continente para o crescimento e desenvolvimento económico inclusivo e sustentável.
Atualmente, apenas 40% da população africana tem acesso a sistemas de alerta precoce para se proteger contra os impactos das alterações climáticas.
No entanto, mais de 40 países africanos reviram os seus planos climáticos nacionais para os tornar mais ambiciosos e acrescentar maiores compromissos à adaptação e mitigação do clima.
O relatório faz várias recomendações, incluindo o reforço dos sistemas de alerta precoce, o aumento da cooperação transfronteiriça e da partilha de dados, o investimento na adaptação à crise climática e um impulso concertado para uma gestão mais integrada dos recursos hídricos.