O presidente da Câmara da Covilhã disse hoje que espera que o plano de revitalização anunciado para a serra da Estrela “faça justiça” ao território afetado e a todos quantos somam prejuízos provocados pelo grande incêndio deste verão.
“O ideal seria que se pudesse ressarcir a 100% e que se incluíssem até os danos imateriais. Mas vamos aguardar com serenidade, continuando sempre a pugnar, a exigir e a solicitar ao Governo que este plano faça justiça”, afirmou Vítor Pereira.
O autarca socialista falava aos jornalistas nas habituais declarações depois da reunião privada do executivo, que teve lugar hoje e durante a qual foi analisada a questão do incêndio que deflagrou na Covilhã a 06 de agosto e que lavrou durante vários dias, afetando cerca de 22 mil hectares da área protegida da serra da Estrela.
Questionado sobre as expectativas quanto ao que irá ser feito, reiterou que o trabalho está a ser realizado em conjunto com o Governo e que os danos e prejuízos já foram comunicados às entidades responsáveis, para que possam ser tomados em linha de conta.
Lembrando as reuniões que têm sido levadas a cabo com os autarcas locais, Vítor Pereira também adiantou que está previsto, para segunda-feira, um novo encontro entre os presidentes das câmaras e a ministra da Coesão Territorial, com o objetivo de “afinar melhor” as medidas.
Sem revelar números quanto aos prejuízos registados neste concelho, salientou que os mesmos “são muito elevados” e que abarcam perdas materiais e outras que será impossível contabilizar porque abarcam questões como os impactos na saúde mental ou as questões emocionais que quem perdeu uma vida de trabalho pode ter de enfrentar.
Nesse sentido, reiterou que o anunciado plano de revitalização deve ser o mais abrangente possível e que deve abarcar instrumentos de caráter financeiro, económico, fiscal, social e, naturalmente, de ordenamento do território.
“Esperamos um plano justo, adequado e proporcional aos reais prejuízos”, destacou.
Mostrou-se ainda convicto de que o Governo terá em conta diferentes situações e deu como exemplo medidas que estão a ser delineadas no sentido de também abranger os agricultores informais, ou seja, aqueles que não tinham atividade agrícola registada, mas cujo rendimento que tiravam da terra era vital e ficou agora posto em causa.
Quanto à componente ambiental e florestal, revelou que tem “fundadas razões para acreditar que o Parque Natural da Serra da Estrela vá ser devidamente ordenado, tratado e acompanhado por quem sabe, por quem é especialista e por quem entende”, acrescentou, frisando a importância de se apostar numa “floresta ordenada e em consonância com os ecossistemas” autóctones.
Já os vereadores da coligação CDS/PSD/IL destacaram o que ainda não foi feito em Pedrógão Grande ou no Pinhal de Leiria para assumirem o receio de que tal se repita e exigiram que, pelo menos, na serra da Estrela o plano seja “mais rápido e eficaz”, referiu Pedro Farromba.
No aspeto político, a oposição pediu ainda a demissão do vice-presidente da Câmara da Covilhã, José Armando Serra dos Reis, por declarações feitas durante o incêndio: “Ouvimos também declarações inqualificáveis do senhor vice-presidente, que considerou este incêndio como uma oportunidade, assumindo, no absurdo das suas declarações, que se podem ‘construir’ animais ou plantas, como se de uma cidade se tratasse. Este é, claramente, mais um sinal de desgoverno que continua na gestão do PS na Câmara da Covilhã e estas lamentáveis declarações deviam levar a que o próprio se demitisse ou que o senhor presidente da Câmara lhe retirasse, de imediato, todos os pelouros”, afirmou Pedro Farromba, numa declaração aos jornalistas.
Questionado sobre este pedido, Vítor Pereira garantiu que não haverá qualquer demissão e considerou o pedido como uma “tentativa de criar um facto político”, tendo ainda defendido que o vice-presidente não terá tido a intenção de desvalorizar ou de reduzir a dimensão da tragédia.
Para Vítor Pereira, tais declarações queriam apenas transmitir a vontade de trabalhar para que se possa fazer melhor do que existia antes e vincou que, no máximo, se está perante um problema de expressão e um problema de interpretação.
A serra da Estrela foi afetada por um incêndio que deflagrou no dia 06 de agosto em Garrocho, no concelho da Covilhã (distrito de Castelo Branco) e que foi dado como dominado no dia 13.
O fogo sofreu uma reativação no dia 15 e foi considerado novamente dominado no dia 17 do mesmo mês, à noite.
As chamas estenderam-se ao distrito da Guarda, nos municípios de Manteigas, Gouveia, Guarda e Celorico da Beira, e atingiram ainda o concelho de Belmonte, no distrito de Castelo Branco.
No dia 25, o Governo aprovou a declaração de situação de calamidade para o Parque Natural da Serra da Estrela, afetado desde julho por fogos, conforme pedido pelos autarcas dos territórios atingidos.
A situação de calamidade foi já publicada em Diário da República e vai vigorar pelo período de um ano, para “efeitos de reposição da normalidade na respetiva área geográfica”.