Os líderes de cinco organizações internacionais lançaram hoje um segundo apelo conjunto para que se tomem ações urgentes para contrariar a crise alimentar global, alertando que o número de pessoas que enfrentam insegurança alimentar aguda deverá continuar a aumentar.
O segundo comunicado conjunto, subscrito pelos líderes máximos da Organização de Alimentação e Agricultura (FAO), Fundo Monetário Internacional (FMI), Grupo Banco Mundial (GBM), Programa Alimentar Mundial (PAM) e Organização Mundial de Comércio (OMC), é divulgado dois meses após o primeiro, que já em 15 de julho pedia medidas urgentes.
Segundo a declaração agora publicada, Qu Dongyu (FAO), Kristalina Georgieva (FMI), David Malpass (GBM), David Beasley (PAM) e Ngozi Okonjo-Iweala (OMC) alertam que a guerra na Ucrânia continua a agravar a crise global de segurança alimentar e nutrição, com preços da energia, alimentos e fertilizantes muito elevados e voláteis, políticas restritivas no comércio e perturbações das cadeias de distribuição.
Apesar do alívio nos preços globais dos alimentos e da retoma das exportações de cereais desde o Mar Negro, os alimentos continuam fora do alcance de muitos devido aos altos preços e aos choques climáticos, avisam, alertando que o número de pessoas que enfrentam insegurança alimentar aguda em todo o mundo deverá continuar a aumentar.
Reconhecendo “progressos consideráveis” em quatro áreas que tinham destacado no primeiro comunicado conjunto – as medidas de assistência social anunciadas ou implementadas quadruplicaram de 37 para 148 entre abril e setembro, exemplificam – os dirigentes pedem um esforço coordenado e abrangente para dar continuidade a estes avanços.
Em concreto, pedem aos países que reexaminem as suas intervenções para tornarem mais eficiente a produção de bens agrícolas e o seu comércio mais aberto, minimizando distorções.
Aumentar a transparência dos mercados alimentares e a monitorização do financiamento pela comunidade internacional; acelerar a inovação no setor agrícola e sistematizar a coordenação e o planeamento conjunto; e investir na transformação dos sistemas alimentares, tornando-os mais resilientes ao risco, nomeadamente ao conflito, aos choques climáticos e às doenças são outras medidas preconizadas no comunicado conjunto.
“Mantemo-nos comprometidos em trabalhar juntos para responder a necessidades imediatas de segurança alimentar e nutrição, lidar com questões estruturais de mercado que possam exacerbar os impactos adversos e construir a resiliência dos países para prevenir e mitigar os impactos de futuras crises”, escrevem ainda os cinco dirigentes.
Num outro comunicado hoje divulgado, a FAO e o PAM alertam que a insegurança alimentar deverá deteriorar-se ainda mais em 19 países ou situações, a que chamam ‘hotspots’ de fome, entre outubro de 2022 e janeiro de 2023.
De acordo com o Relatório Global sobre a Atualização Semestral da Crise Alimentar 2022, recentemente publicado, espera-se que até 205 milhões de pessoas enfrentem insegurança alimentar aguda e precisem de assistência urgente em 45 países, alertam as duas organizações.
Se os dados adicionais da última análise disponível de 2021 forem incluídos para oito países e territórios, esse número deverá alcançar até 222 milhões de pessoas em 53 países ou territórios, o número mais alto registado nos sete anos deste relatório.
Estima-se que cerca de 45 milhões de pessoas em 37 países tenham tão pouco para comer que ficarão gravemente desnutridas, correndo risco de morte ou já enfrentando fome e morte.
Isto inclui 970.000 pessoas que se estima poderem enfrentar condições catastróficas em 2022 se nenhuma ação for tomada.
Afeganistão, Etiópia, Nigéria, Sudão do Sul, Somália e Iémen estão no nível de alerta mais alto e requerem a atenção mais urgente.
Como na última edição do relatório, a República Democrática do Congo, o Haiti, o Quénia, a região do Sahel, o Sudão e a Síria continuam de grande preocupação, mas nesta edição o alerta é estendido à República Centro-Africana e ao Paquistão.
Todos esses ‘hotspots’ têm um grande número de pessoas que enfrentam insegurança alimentar aguda crítica, prevendo-se que as condições se agravem nos próximos meses.
Guatemala, Honduras e Maláui foram adicionados à lista de países ‘hotspot’ desde a edição de junho de 2022, enquanto o Sri Lanka, Zimbabué e Madagáscar continuam focos de fome.