O impacto devastador dos fogos e a perda incalculável de valor patrimonial assola o nosso país anualmente.
Ano após ano, esperamos ter resultados diferentes, fazendo praticamente o mesmo. Face a um esforço desumano de vários operacionais e bastantes voluntários combate-se, trava-se e tenta-se reduzir o fruto de um problema mais do que identificado. A pouca competitividade do sector florestal conduz a uma reduzida capacidade de investimento na manutenção e ornamento das parcelas, que por sua vez aumenta o risco de incêndio e dificulta as operações de combate a fogos.
Com grande ilusão, espero que a recém-criada força de intervenção para o Parque Natural da Serra da Estrela seja o que há muito esperamos, um caso de sucesso na recuperação e requalificação da área ardida, e não só em meia dúzia de fotografias de algumas árvores plantadas.
Não ouso a pronunciar-me sobre as perdas humanas e patrimoniais que todos os anos lamentamos. Mas apenas focando na componente Agro-Silvo-Pastoril, como conseguem os proprietários recuperar destes eventos catastróficos?
O prejuízo agroflorestal é de fácil cálculo, dada a perda parcial ou total da biomassa queimada, e as ações de retoma de atividade e controlo da erosão não são tão urgentes quanto as que enfrentam os produtores pecuários.
Os produtores pecuários perdem os pastos e zonas de alimentação do gado, o que num ano já severo e de produção forrageira escassa, aumenta as despesas a enfrentar. As poucas reservas alimentar que se salvaram podem, em inúmeros casos não chegar para suprimir as necessidades alimentares agora impostas. Para além do risco de mortalidade dos efetivos, causada direta (ex. morte por carbonização) ou indiretamente (ex. morte por inalação de fumos) pelo fogo há também a considerar os cuidados médico veterinários dos animais traumatizados.
Para além dos exemplos acima apresentados, existe um enorme impacto ambiental não menos importante. O aumento do risco de erosão e a perda de fauna e flora são os mais visíveis, contudo, e à imagem dos efetivos pecuários, todas as espécies silvestres ficam sem forma de se alimentar. Para estas populações a única solução é o êxodo para zonas e manchas florestais não afetadas ou zonas agrícolas, aumentando a competição pelos recursos existentes e/ou prejuízos nas explorações agrícolas.
Se por um lado existem seguros como o Seguro Florestal e o Seguro Pecuário no mercado para fazer face a este e outros prejuízos, indemnizando os produtores pecuários pela mortalidade e aos produtores florestais os custos de recuperação da capacidade produtiva dos povoamentos, incluído a reflorestação da área ardida.
A salvaguarda da fauna selvagem, por outro lado, está totalmente dependente das associações de caçadores e zonas de caça turísticas. Estes zeladores da biodiversidade, muitas vezes criticados pela sociedade atual, são os que minimizam maiores impactos ambientais, alimentando e criando pontos de água artificiais para os animais.
Os anos passam, os resultados pouco mudam.
Não deveríamos deixar de contar apenas com o governo e outras entidades estatais para fazer face a situações drásticas como estas? Certo é que há muito que fazer na fileira agroflorestal na prevenção e controlo de incêndios, mas é importante que face à situação atual, os próprios produtores criem os seus próprios mecanismos de defesa e mitigação de risco.
António Pinheiro de Lacerda
Artigo publicado originalmente em ATLAS Agro Insurance MGA.