Produtor, agricultor e especialista em vinhos e e iguarias tradicionais, Joaquim Arnaud é um dos nomes mais enigmáticos e reservados neste meio. Da vida pessoal ao trajeto profissional, conta-nos um pouco das peripécias da sua vida.
O produtor do Alentejo tem às suas costas quase 400 anos de tradições familiares. Faz vinho em várias regiões, mas é em Pavia que tem o seu coração. Desde os 18 anos que desenvolveu vários produtos na sua enorme propriedade, entre os quais o único presunto de vaca que existe em Portugal. Agora, uma das apostas é o enoturismo.
O Joaquim Arnaud tem uma grande tradição familiar no Alentejo, e tem o mesmo nome que os seus antepassados. Vai haver continuidade?
O meu pai, avô e bisavô chamavam-se Joaquim Arnaud. Pelo menos desde 1882 que existe um. A primeira vez que fui tomar café com a minha mulher disse-lhe que estava interessado nela para namorar e para um dia casar, mas com uma condição: tinha de aceitar o nome de Joaquim Arnaud para o filho. E ela curiosamente aceitou.
Tem a sua propriedade em Pavia, no Alentejo. São muitas gerações?
Os Arnauld estão em Pavia desde 1640. O primeiro que veio para Portugal chamava-se Arnao, Guilherme Arnao, para ser mais preciso. Descendente dos Condes de Arundel, veio de Inglaterra para Portugal para acompanhar D. Filipa de Lencastre. Anos mais tarde foi o único estrangeiro que morreu na batalha de Alfarrobeira ao lado do D. Pedro contra o D. Afonso V.
Mas acabaram por sair de Pavia.
Foram para a zona de Coimbra e com o apoio a D. Pedro ficaram na mó de baixo. Mas um ramo da família estabeleceu-se em Pavia. O ramo que eu represento.
Continua a haver uma relação com a nobreza?
É uma pequena nobreza no Alentejo, mas os condes de Arundel, uma família católica inglesa, são atualmente representados pelo duque de Norfolk.
A presença do vinho é antiga?
Corria-me no sangue pelo lado da minha mãe que sempre esteve ligada ao vinho.
Onde nasceu?
Oficialmente em Pavia, mas na verdade nasci no Hospital de Évora. Estava o meu pai a registar-me em Pavia quando saiu no jornal de Évora um artigo a dar os parabéns ao provedor da Misericórdia, que na altura era o meu pai, pelo nascimento da criança em Évora.
Os seus pais viviam em Pavia? O que faziam?
O meu pai era essencialmente agricultor. Como a Santa Casa da Misericórdia foi fundada por um antepassado, sempre estivemos envolvidos. A minha mãe era formada em indústria hoteleira e tinha o curso de economato, mas depois de casar acabou por ficar a ajudar o meu pai. E foi ela que aguentou o barco depois da morte do meu pai quando eu tinha um ano e meio.
O que fazia a sua família em Pavia?
Tinham a sua casa agrícola no meio da vila. É um antigo castelo transformado em casa pelo meu bisavô. Uma casa-fortaleza.
Chegou a morar lá quando nasceu?
Nasci em 1973 no período do “verão quente” e acabei por ir viver para a zona de Carcavelos.
Visitava a casa nesse período conturbado?
Ia desde pequeno só no verão, mas só saía acompanhado, nunca sozinho. Depois os tempos acalmaram.
Continuava a viver em Carcavelos?
Mudei de casa algumas vezes e aos 18 anos assentei em Cascais, mas sempre indo ao Alentejo. Também foi com essa idade que comecei a minha casa agrícola.
Onde estudou?
Em Carcavelos e na Parede. Depois cheguei a entrar em Economia, mas ao mesmo tempo decidi comprar umas vacas em Pavia que eram lindas de morrer. Houve muitos problemas na reprodução e, por isso, acabei a fazer 22 partos manualmente. A parte financeira da casa agrícola estava em muito mau estado e tive de largar tudo para ir para lá tentar dar a volta.
E a enologia?
Sou um afinador de vinhos e não um enólogo. Vou afinando.
Foi então para Pavia. O que tem?
Cerca de 850 hectares com vacas, vinhas, olival e pastagens.
Nessa altura a propriedade era sua?
Fiz partilhas com a minha mãe e fiquei com uma propriedade de 166 hectares. Dois anos depois, assumi as suas dívidas e fiquei com o restante, cerca de 400 e tal hectares. De resto fiz um contrato de arrendamento com a minha tia – uma das pessoas que mais me influenciou e que, basicamente, substituiu o meu pai.
Como foi o início?
Fui à banca para montar a minha exploração e no final do […]