Investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto estudam as alterações nas comunidades microbianas das águas costeiras como um primeiro indicador do estado de saúde de um ecossistema. Objetivo é criar uma “ferramenta” que ajude a um diagnóstico mais precoce.
No final de junho, uma equipa de investigadores coordenada por Olga Lage, docente da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), dedicou-se a recolher sedimentos no Estuário do Douro, no Cabedelo, onde as águas do rio se preparam para confluir com as do Atlântico que se anunciam logo à frente. Os investigadores recolheram sedimentos de uma zona não poluída, para os contaminar depois, em laboratório, com metais e ver o que acontece à comunidade de microrganismos presente nesses sedimentos. “Vamos testar diferentes concentrações de chumbo, arsénio, zinco e cobre, metais que encontramos em grande quantidade num outro local do Rio Douro”, conta Olga Lage.
O objetivo destes trabalhos – integrados no projeto BIOMIC, que agrega equipas de investigadores de Portugal, Espanha e França e é financiado pelo programa europeu Interreg Sudoe – é criar uma ferramenta de diagnóstico precoce que permita avaliar a qualidade dos ecossistemas em ambientes aquáticos costeiros, cujo equilíbrio é cada vez mais ameaçado pelas alterações climáticas e pela intervenção humana. E os “milhares de microrganismos” presentes nas águas e sedimentos, “de bactérias a arqueias, microalgas, fungos e outros” são uma ajuda preciosa nesse sentido, explica Olga Lage.
A avaliação dessa componente microbiológica, “até ao momento nunca contemplada para análise da qualidade da água e dos ecossistemas”, é uma das características inovadoras deste projeto. “Em termos gerais, uma maior biodiversidade autóctone caracteriza uma melhor qualidade ambiental”, aponta Sara Antunes, investigadora auxiliar do CIIMAR, também envolvida no projeto. “Temos legislação muito específica para ecossistemas aquáticos, interiores e costeiros, mas com ferramentas de análise de indicadores de níveis tróficos superiores, o que quer dizer que quando o problema aparece nesses níveis já está há muito tempo nos níveis tróficos mais baixos. Precisamente nesta componente microbiológica. E esta ferramenta, que estamos a desenvolver, permite avaliar essa sensibilidade”, explica. Os níveis tróficos representam uma espécie de hierarquização das teias alimentares e, logicamente, “quanto mais cedo conseguirmos detetar alterações, ou seja, nos níveis tróficos mais baixos, menos danos haverá para recuperar no futuro”, diz.
No fundo, os investigadores contam encontrar evidências das alterações climáticas na comunidade microbiana desses ecossistemas das zonas aquáticas costeiras. José Catita, […]