Nos últimos anos, o mundo tem sido palco de diferentes cenários que têm provocado uma enorme oscilação nos mercados mundiais de produtos agroindustriais.
Dada tendência crescente de incerteza na escolha das melhores ferramentas a utilizar para obter um escoamento seguro de produção, decido hoje abordar o tema da mutabilidade climática e das consequências na oscilação de preços.
Como tem sido evidenciado, o clima tem influência óbvia na produção e qualidade agrícola através de diferentes fatores abióticos tais como a temperatura e a precipitação. Consequentemente, a produção (e respetiva qualidade) afeta não só o preço, como os padrões de exportação e importação.
Dado que o objetivo primordial da produção agrícola prende-se com o suprimento das necessidades dos consumidores, o mercado procurará sempre canais alternativos para responder a estas flutuações.
Por outro lado e numa situação extrema, caso o mercado mundial não consiga responder a estas carências, o próprio consumidor tende a mudar as suas tendências de consumo – o que pode gradualmente levar a uma desvalorização do produto numa determinada geografia.
Como ilustração do mencionado acima, podemos recorrer ao exemplo do impacto da seca severa na Austrália.
Entre 2017 a 2019, algumas regiões da Austrália (como Queensland), enfrentaram fenómenos de ausência total de precipitação combinada com temperaturas extremamente elevadas. Despoletando, assim, o cenário ideal para a ocorrência de diversos incêndios nestas zonas.
As pastagens foram convertidas em poeira e a alimentação animal disparou de preço – levando os agricultores a abandonar a gestão pecuária, aumentando assim a taxa de abate e, consequentemente, a exportação de carne (que não parou de subir até ao retomar da precipitação em 2020).
Desde então, os produtores focaram-se em reconstruir a sua estratégia de produção e, naturalmente, o abate e exportação de carne decresceu abruptamente (atingindo mínimos no início de 2022) – o que provocou um aumento brusco dos preços da carne (potenciado pelo decréscimo da curva de oferta no mercado).
Esta quebra na produção e exportação de carne fez com que os principais consumidores, como os Estados Unidos da América, procurassem outro canal de fornecimento. Dando assim, ao Brasil a possibilidade de responder às carências provocadas pela Austrália.
Voltando o foco para uma perspetiva mais micro, a minoração da influência da Austrália enquanto um dos principais agentes exportadores de carne para os Estados Unidos fez naturalmente com que os pequenos produtores tivessem muita dificuldade na reconstrução da sua estratégia de produção, levando mesmo à extinção de alguns negócios.
Em situações idênticas, a contratação por diversos anos de Seguros à produção, como o Seguro de Colheitas, acedendo a taxas mais baixas (disponíveis nos períodos em que este tipo de ocorrência climática não existe), poderá ser uma mais-valia quando tida em consideração no momento dos cálculos da gestão do investimento agrícola.
Este tipo de mecanismos de mitigação de risco aplicados a longo prazo, garantem uma vantagem estratégica aos agricultores no momento do restabelecimento e/ou manutenção do seu agronegócio.
São inúmeros e inegáveis os exemplos da tendência do impacto climático não só ao nível macro e micro económico, como também ao nível social (relativo ao fornecimento alimentar, por exemplo).
Sendo a agricultura e o seu sucesso uma atividade dependente das condições meteorológicas, é essencial que os produtores olhem para os seguros agrícolas como uma garantia de sustentabilidade do seu agronegócio e não como um encargo adicional na conta de cultura.
Júlia Alves Gonçalves
Artigo publicado originalmente em ATLAS Agro Insurance MGA.