As importações portuguesas aumentaram 37,2% nos primeiros seis meses de conflito entre a Rússia e a Ucrânia e as exportações subiram 27,5%, sobretudo devido à inflação, tendo as transações com aqueles dois países sofrido “diminuições significativas”.
De acordo com uma análise divulgada hoje pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), “durante os primeiros seis meses de conflito entre a Rússia e a Ucrânia (período março-agosto de 2022) registou-se uma aceleração das importações totais de Portugal (+37,2% face ao período março-agosto de 2021; após um acréscimo de 22,0% na globalidade do ano 2021) e em menor grau das exportações (+27,5% no período março-agosto de 2022; +18,3% na totalidade do ano 2021)”.
Segundo explica, “este acréscimo resulta principalmente do crescimento dos preços, iniciado em março de 2021 e que se acentuou de forma significativa desde abril de 2022”, já que “as variações em volume, apesar de entre março e agosto de 2022 terem sido sempre positivas, foram menos expressivas que as variações de preços”.
No que respeita às transações de Portugal com a Rússia e a Ucrânia, o INE diz terem-se verificado “diminuições significativas” desde o início do conflito, o que tem originado a sua substituição por outros países fornecedores e clientes.
Assim, o peso das importações de bens da Ucrânia desceu de 0,3% nas importações totais portuguesas entre março e agosto de 2021 para 0,2% no mesmo período de 2022, tendo as importações da Ucrânia diminuído 3,6% no conjunto dos seis meses.
“No entanto — nota o INE — nos meses de maio, julho e agosto de 2022 registaram-se aumentos face aos mesmos meses de 2021 (+8,1%, +376,6% e +144,1%, respetivamente), sobretudo devido às importações de ‘produtos agrícolas’”.
Os ‘produtos agrícolas’ mantiveram-se, aliás, como “grupo dominante” nas importações da Ucrânia entre março e agosto de 2022, “aumentando significativamente o seu peso no total das importações provenientes da Ucrânia em relação ao mesmo período de 2021 (de 55,9% para 76,1%)”, em resultado de uma subida de 31,3%, o “maior aumento absoluto entre os grupos de produtos importados da Ucrânia”.
Nas importações de produtos agrícolas da Ucrânia salientam-se as aquisições de sementes de nabo silvestre ou de colza, que atingiram 29 milhões de euros, representando 82,7% das importações totais portuguesas deste produto.
Já as importações de milho provenientes da Ucrânia decresceram 60,7%, tendo este país passado de principal fornecedor de milho a Portugal entre março e agosto de 2021 (com um peso de 26,4%), para apenas quarto no mesmo período de 2022, com um peso de 5,8% e atrás do Brasil (47,8%), Canadá (13,8%) e Roménia (10,7%).
No que se refere às importações de bens da Rússia, entre março e agosto de 2022 diminuíram 14,4% em relação ao mesmo período de 2021, tendo representado 0,6% das importações totais nacionais, menos 0,4 pontos percentuais que no mesmo período de 2021.
Entre março e agosto de 2022, face ao mesmo período de 2021, os combustíveis minerais mantiveram-se como o principal grupo importado da Rússia, com um peso de 62,0% (+5,6 pontos percentuais), mas tendo registado um decréscimo de 5,9%.
O INE detalha que o decréscimo nas importações de combustíveis minerais provenientes da Rússia verificou-se nas importações de óleos e outros produtos provenientes da destilação dos alcatrões de hulha a alta temperatura e de fuelóleos. Contrariamente, verificou-se um aumento nas importações de gás natural, liquefeito provenientes deste país, resultado de contratos de fornecimento previamente estabelecidos.
Assim, entre março e agosto de 2022 não se registaram importações de óleos e outros produtos provenientes da destilação dos alcatrões de hulha a alta temperatura da Rússia (em igual período de 2021, tinham atingido 44 milhões de euros, tendo sido a Rússia o principal fornecedor, com um peso de 89,2%), tendo a Espanha passado a ser o principal fornecedor no acumulado dos seis meses após o início do conflito (peso de 89,9%).
Relativamente aos fuelóleos provenientes da Rússia, apresentaram durante este período um decréscimo de 13,8% face ao mesmo período de 2021, contrariamente à variação no total das importações portuguesas deste produto (+172,9%).
Enquanto entre março e agosto de 2021 a Rússia foi o principal fornecedor deste produto a Portugal, com um peso de 47,1%, no mesmo período de 2022 foi o terceiro principal fornecedor, com um peso de 14,9%, tendo sido ultrapassada pela Arábia Saudita (19,8%) e pela Bélgica (17,0%).
Quanto ao gás natural liquefeito importado da Rússia, verificou-se um aumento de 80,0% no período em análise, mas menos significativo do que o acréscimo global deste produto (+335,7%), pelo que o peso da Rússia nas importações deste produto desceu de 10,0% para 4,1%, passando de terceiro para quinto principal fornecedor.
No período acumulado de março a agosto de 2022, os quatro principais fornecedores de gás natural liquefeito a Portugal foram os Estados Unidos (peso de 40,3%), Trindade e Tobago (22,8%), Nigéria (19,6%) e Guiné Equatorial (12,9%).
Nos primeiros seis meses da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, as exportações portuguesas para estes países registaram também uma forte redução homóloga: para a Ucrânia diminuíram 42,0%, representando menos de 0,1% das exportações totais, enquanto para a Rússia recuaram 59,1%, representando apenas 0,1% das exportações portuguesas totais (-0,2 pontos percentuais).
Entre março e agosto de 2022, o saldo comercial das transações com a Ucrânia atingiu um défice de 95 milhões de euros, o que corresponde a um agravamento de quatro milhões de euros face ao mesmo período de 2021.
Quanto ao saldo comercial das transações com a Rússia, atingiu um défice de 300 milhões de euros, o mesmo valor que tinha registado no período homólogo.