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Incêndios/5 anos: Ambientalistas desejam trabalho mais célere na Mata Nacional de Leiria (C/ÁUDIO)

Associações ambientalistas gostariam de ver mais célere o trabalho de recuperação da Mata Nacional de Leiria (MNL), destruída pelos incêndios de outubro de 2017, e destacaram a necessidade de terminar com a monocultura do pinheiro-bravo.

À agência Lusa, Miguel Jerónimo, membro da direção do Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA) e coordenador dos projetos “Renature Monchique” e “Renature Leiria”, considerou que o trabalho desenvolvido na MNL nos últimos cinco anos podia ser mais rápido, mas admitiu que este é “um mal menor”, assinalando que toda a área está “coberta por projetos de investimento”, pelo que “vai ser 100% reflorestada”.

A MNL, que ocupa dois terços do concelho da Marinha Grande, tem 11.021 hectares. Os incêndios, que começaram em 15 de outubro de 2017 e foram extintos dois dias depois, destruíram 86% da sua área.

Miguel Jerónimo comparou o estado da MNL ao de outros territórios atingidos por incêndios, como Monchique (agosto de 2018) ou Pinhal Interior (junho de 2017).

“Sendo a Mata Nacional [de Leiria] uma área pública, o Estado tem de ser o primeiro a dar o exemplo. Se podia ser mais rápido, claro que podia e até devia, mas, infelizmente, temos a globalidade das áreas ardidas em Portugal, praticamente, sem nenhum trabalho visto”, declarou, elencando uma “multiplicidade de fatores” para esta situação, como a propriedade ser privada, a estrutura fundiária ser extremamente fragmentada, o abandono da paisagem e a falta de capacidade de investimento dos privados.

O coordenador alertou que “não é desejável” ter uma MNL como dantes, até porque ardeu na sua grande maioria, realçando o “‘mix’ [mistura] de espécies” (pinheiro-manso, medronheiro ou carvalho) que aquela área vai ter.

O GEOTA iniciou este ano a plantação na MNL de 1,3 milhões de árvores até 2026 numa área de mil hectares (eram, inicialmente, 650 mil árvores até 2025 em 700 hectares), no âmbito do “Renature Leiria”.

Da Zero – Associação Sistema Terrestre Sustentável, Paulo Lucas destacou que “já muita coisa foi feita”, incluindo da sociedade civil, e defendeu que “as pessoas não podem olhar para a mata, que ardeu, e esperar que em cinco anos” se tenha “árvores enormes”.

“Nem é lógico que passemos a ter um Pinhal de Leiria da mesma forma que tínhamos”, disse, realçando a necessidade de ter “uma floresta mais adequada ao clima” previsível no futuro.

Afirmando que a preocupação da Zero é que a MNL não seja “totalmente dominada, em todas as áreas, pelo pinheiro-bravo”, Paulo Lucas adiantou a necessidade de “controlar as espécies invasoras que estão a dominar a mata” em alguns locais, de “garantir que a mata não é assolada por mais fogos” e de “haver espaços para a descontinuidade de combustíveis”.

O projeto da Zero na MNL passa pela plantação, em 21 hectares, de espécies que não o pinheiro-bravo.

Já o presidente da Oikos – Associação de Defesa do Ambiente e do Património da Região de Leiria, Mário Oliveira, também apontou que um dos problemas que “salta como um dos mais evidentes é a proliferação de plantas exóticas e invasoras no território da mata”, notando que a situação “põe em risco toda a biodiversidade daquele pinhal”.

Observando que há zonas onde está a haver a reflorestação “a um ritmo lento, para não dizer lentíssimo, já que os custos envolvidos e a mão-de-obra necessária para fazer” são imensos, Mário Oliveira esclareceu que a regeneração natural está igualmente a acontecer, mas neste caso “era preciso que houvesse a retirada das invasoras, porque elas vão sobrepor-se às autóctones”.

Segundo o ambientalista, há intervenções na MNL bem feitas, exemplificando com a sustentação de taludes em algumas ribeiras, e “outras mal feitas”, com intervenções que degradaram espécies naturais “para deixar eucaliptos”.

Por outro lado, defendeu que a sensibilização ambiental já deveria estar em marcha, sendo que um dos instrumentos para tal poderia ser o “famoso museu” da floresta, criado em lei em 1999.

Lamentou que o plano de recuperação não tenha “uma calendarização clara” e não seja “amplamente divulgado junto da comunidade”.

O dirigente da Oikos reconheceu, apesar de haver muita coisa por fazer, “todo o esforço que os técnicos têm feito no sentido de recuperar, mas é, manifestamente, pouco, face à dimensão da empreitada”.


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