O setor oleícola antevê que 2022 vai ser um ano de contra-safra, com uma quebra prevista na produção na ordem dos 30% (a produção deve rondar os 120 mil ou as 140 mil toneladas). Tal acontece após, no ano passado, a produção de azeite ter batido todos os recordes, com 200 mil toneladas, e atingido os 700 milhões de euros em exportações.
“Este será um ano complicado”, mas no pior cenário nunca deverá ficar abaixo dos das campanhas de 2016 e 2017 (em que se registou cerca de 75 mil toneladas), apontou Catarina Bairrão Balula, membro do Conselho Oleícola Internacional (COI), no âmbito da 9ª edição das Olivum Talks.
A especialista afastou ainda quaisquer cenários de escassez de azeite ou de subida acentuada dos preços, deixando uma garantia: “Temos um grande stock da produção do ano passado que se soma aos stocks de anos anteriores e haverá resposta para a procura”.
Catarina Bairrão Balula alertou ainda para o facto de outros países, à semelhança de Portugal, também registarem este ano quebras acentuadas na produção de azeite, como são os casos de Espanha (-50%), Itália (-30%) e ainda da Tunísia e de Marrocos. Já a Grécia está em contraciclo e deverá registar um aumento de 30%, assim como também a Turquia.
Na sessão de abertura da 9ª edição das Olivum Talks, o presidente da Comissão de Agricultura e Pescas, Pedro do Carmo, sublinhou que “a olivicultura é parte da solução, nunca o problema” e que “em tempos de incertezas e de dificuldades”, como os que se vivem, “o olival é vital e dá um contributo ainda mais decisivo para as economias locais e para a economia nacional”.
Os desafios energéticos no setor do azeite
No painel dedicado aos desafios energéticos do setor agroalimentar foi reconhecido o papel do setor oleícola no reaproveitamento das energias que consome e o seu contributo para a sustentabilidade energética.
João Gonçalves, presidente da APAMB – Associação Ambiental, chamou a atenção para o facto de a indústria agroalimentar ser muitas vezes alvo de críticas apenas por questões de perceção. “É importante encontrar caminhos e soluções que possam desmistificar essas ideias, que mostrem que há um reconhecimento da forma como se produz e consome energia neste setor”, defende.
O responsável nota que o “setor pode defender-se com números e evidencia cientifica”.
Pedro Horta, da Universidade de Évora, defendeu, por seu lado, que as energias renováveis vão ser a solução para a sustentabilidade do setor oleícola e de todos os outros setores – apontando a meta de 86% de energias renováveis em 2050.
Já o presidente da EDIA, empresa de desenvolvimento e infra-estruturas do Alqueva, José Pedro Salema, destacou o facto de a estratégia de independência energética da empresa ter como objetivo salvaguardar o futuro do planeta, mas também de garantir que os preços da energia que consome se mantêm.
O artigo foi publicado originalmente em Vida Rural.